Por Gonzaga Soares
Gosto dos coadjuvantes da bíblia. Me identifico com eles, não sei ao certo
o motivo. Talvez por não estarem sob os holofotes da trama, na qual figuram em
plano secundário. Na historia dos gêmeos bíblicos, o foco narrativo é centrado
em Jacó, restando a Esaú o papel de coadjuvante na trama de seu irmão. Todos
conhecem a historia de Jacó, um relato bíblico cheio de intrigas, trapaças,
traições e temor. Desde da primeira vez que li o texto bíblico, simpatizei com Esaú,
que diante da traição da mãe e do irmão, sempre demostrou um caráter admirável. E como em um filme ou romance literário em que você torce pelo mocinho, que
sofre com as maldades do vilão, eu torcia para que no final da história Esaú
desse uma boa sova em Jacó. No entanto, o
final da história é surpreendente e contraria todos os romance e filmes, em uma
manifestação de pura graça.
Quando Jacó resolve regressar do
seu exílio de vinte anos imposto pelo
pecado que cometera contra seu irmão,
este teme por sua vida e de sua família. Tantos anos passados seriam
suficientes para acalmar o coração do irmão traído? Jacó havia prosperado, Deus
o abençoara, mas nada aliviava o fardo pesado dos crimes que cometera contra o
irmão. Jacó tinha muitas posses, mas no fundo sabia, que o que tinha não era
seu, e a paz que tanto desejava, não possuía.
No caminho de volta à sua terra é
alertado que o seu irmão vem ao seu encontro. Assustado, o usurpador entende que chegara a hora de finalmente
confrontar a ira de Esaú. Temeroso e certo do destino que o aguardava, Jacó
busca estratégias para acalmar a fúria de seu irmão enviando-lhe presentes na esperança de comprar o perdão de seu irmão, e os manda em grupos,
colocando-se no fim da caravana, como uma última alternativa de fuga caso o
suborno que oferecera ao seu irmão falhe, e possa salvar a suas esposas, filhos
e a si mesmo.
É neste ponto que a historia dos
gêmeos atinge seu clímax, e é neste ponto que a história contraria todas as
expectativas do leitor, pois ao contrário dos romances literários, o irmão
traído não busca vingança, sua mão não empunha o metal frio de uma espada, mas
seus braços lançam-se ao pescoço de Jacó, abraçando-o, beijando e chorando. A
graça que tanto o usurpador buscara, lançara-se sobre ele e finalmente o
alcançara. Os crimes que cometera já
não importavam mais, e inexplicavelmente não há ódio no coração de Esaú, mas apenas
amor irrestrito de um irmão. E, como prova máxima de graça, Esaú rejeita o
suborno do irmão — "Eu já tenho
muito, meu irmão. Guarde para você o que é seu" (Gênesis 33:9) — para espanto do
usurpador a graça não pode ser comprada.
Não me lembro de ter ouvido, nem ao menos uma vez, sobre o caráter e compaixão de Esaú. Sempre que ouço seu nome é
de forma pejorativa ou em tom de acusação diante de suas falhas. Mas posso
afirmar com certeza que com Esaú aprendi o grande caráter de um homem que, ao
ser traído, soube aplacar a sua ira e honrar a figura do seu velho pai. Com ele
descobri o valor do perdão e — pasmem! — de que ouro e gado não podem comprá-lo. Com Esaú aprendi que posso perder tudo,
primogenitura, bênçãos, o carinho de uma mãe, e que ninguém pode roubar o amor
que existe em mim, amor que só se pode explicar na graça irrestrita do Criador.
A história é de Jacó, mas a maior lição aprendi de Esaú, que, nas poucas vezes que aparece, rouba a cena do irmão
Comentários
Graça e paz; um abraço.
Nadson Vasconcelos
Luiz Carlos
Ah! Tem uma coisa que aprendi com Esau: que ninguem seja imoral ou profano como Esau que por uma unica refeicao trocou seu direito primogenitura.
Esaú , tinha defeitos com certeza, mas se comparado a Jacó, este era um santo. Não vou repetir as qualidades que admiro em Esaú, isto já fiz no texto, só quero enfatizar, que esta é a minha visão do texto, o que aprendi na historia de Jacó, foi com seu irmão, já de Jacó, sua contribuição limita-se as coisas que não devo fazer, seus inúmeros erros, apenas nos alertam –me para ter cuidado.
No entanto, esta não é uma visão partilhada por muitos, uma vez que uma boa parcela dos crentes costumam endeusar os personagens bíblicos, e tentam a toda hora justificar suas falhas, em contra partida inventam pecado até onde não tem para os excluídos, os fracos, os marginais da bíblia, um exemplo claro do que falo, é o que grande parte dos cristãos afirmam sobre o porque de Deus rejeitar a oferta de Caim, eles dirão: ele não deu das primícias, não ofertou com amor, etc, no entanto a bíblia nada diz, sobre o porque Deus agradou-se da oferta de Abel e rejeitou a de Caim, qualquer tentativa de responder isso é fantasia.
Ah só mais uma coisa, IMORALIDADE para mim, é ver meu irmão morrendo de fome e nega-lhe um prato de comida. Como pode ver é só uma questão de ponto vista.
Ps. Um abração, tom saudades do bons tempos do GEEC, e fica na paz!
Gonzaga Soares
E Jacó deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas; e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e saiu. Assim DESPREZOU Esaú a sua primogenitura. Gênesis 25:34
E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura.
Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.
Hebreus 12:16-17
Pois bem cara, o que disse foi uma citação da própria Bíblia.
Sugestoes para os próximos posts: O que aprendi com Caim e com Saul, ambos, como Esaú, rejeitados por Deus.
“...E Jacó deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas; e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e saiu. Assim desprezou Esaú a sua primogenitura”,não oferece base alguma para afirma que Esaú fosse um mal caráter, quanto a Hebreus , tenho minhas ressalvas quanto ao mesmo, no entanto estou certo que o texto faz referencia a gênesis a Gênesis 27:38
“E disse Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou. “ , quando este implora a Isac que o abençoe também.
Quando fiz a reflexão estava ciente destes textos, e eles em nada mudam ou tiram os valores de Esaú, e concorde você ou não com isto, o que aprendi neste relato bíblico foi com Esaú, e não esqueça do titulo do post, " O que aprendi com Esaú", esta no singular e é pessoal, e como já falei para você, não é uma visão partilhada por muitos, mas é a que Deus usou para me ensinar.
Quanto a sua sugestão vejo que é carregada de ironia, mas respeito seu modo de pensar, e sei que você compreendeu quando citei o caso de Caim, na bíblia como em toda a vida Deus é soberano e Senhor absoluto, ao menos para mim, e este não deve explicações a ninguém, se ele escolhe os seus preferidos, não serei eu a questiona-lo. Mas obrigado pela “ sugestão”, pensado bem Caim e Saul tem muito a nos ensinar, MESMO QUE SEJA “COMO NÃO DEVEMOS NOS COMPORTAR”. Um abraço e fica na paz.
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