Pular para o conteúdo principal

O Tsunami e o blá-blá-blá teológico de sempre



Não acredito que Deus tenha determinado algo tão horrível quanto o Tsuname que atingiu o Japão a poucos dias. Fico surpreso em saber que muitas pessoas defendem com intenso vigor tais posicionamentos. E pior, o fazem com uma insensibilidade funesta. Dizem defender a Soberania de Deus. Com isso, fazem parecê-lo um ser medíocre, que precisa ser defendido; um ser pequeno, mesquinho, tirano e, ainda por cima, carente de defesa.

Outros, do outro extremo desse cabo de guerra intelectual, conjecturam sobre um Deus que se surpreende com os acontecimentos da história, que não predetermina nem prevê, que se submete à incerteza quanto ao curso da vida.

Os dois lados parecem se esquecer do fato de que “o princípio” de todas as coisas está em Deus, e que o próprio tempo existe NELE. ELE, Deus, por sua vez, não existe, apenas É. Sendo que todas as coisas existem NELE e nada fora DELE pode existir.

Prefiro concordar com C.S. Lewis quando diz que Deus está fora do tempo e, assim sendo, passado, presente e futuro estão diante dele e acontecem simultaneamente. Difícil de compreender, mas possível de se crer pela fé.

Porém o homem, diante da tentação de compreender todas as coisas (o que se apresenta como uma tremenda arrogância, semeada pela serpente desde o paraíso), e ultrapassando os limites de uma reverência humilde, põem-se a elaborar teorias e mais teorias. Todas elas facilitando a sua própria aceitação dos acontecimentos da vida a partir de uma ideia plausível sobre Deus. Para muitos, é difícil aceitar sem racionalizar.

Ambas as linhas de pensamento, o determinismo teológico e o não determinista, trabalham com a ideia de linearidade do tempo. Na primeira, Deus, no passado, lá atrás, predeterminando todas as coisas, por isso mesmo, sabendo de todas as coisas. A segunda, Deus, lá atrás, abrindo mão de sua oniciência (e talvez, de outros atributos) a fim de vivenciar a história de forma compatível – em pé de igualdade – com a experiência humana.

Em uma, vemos Deus limitado ao tempo, precisando determinar antes a fim de não se surpreender (como o engenheiro que projeta o trajeto de um trem); na outra, preocupado em equiparar-se ao homem, restringindo seu poder a fim de se submeter ao poder de Cronos (o tempo como o provamos).

Agora, se Deus é como penso que é, superior até mesmo ao tempo, não há como ele caber na esfera temporal – ser contido por ela –, uma vez que o tempo, por ser menor que Deus, é que está contido em NELE. E pra quem pensa que em Jesus ocorreu uma exceção, digo que na verdade ocorreu uma fusão entre o que é eterno e o que é finito, ocasionando a síntese que resultou da salvação da humanidade.

De qualquer maneira, simplificando a questão, teologizar sobre catástrofes afirmando que Deus as quis, é sentenciar, julgar, e valer-se de uma condição a qual não nos foi outorgada. E tratar Deus, submetendo-o à linha do tempo, é limitá-lo.

No entanto, reconheço as limitações da mente humana – nossa incapacidade de interpretar os fatos em sua plenitude de significados –, por isso mesmo não quero recriminar quem quer que seja pelas suas interpretações e teorias abraçadas. Não obstante, lamento a falta de amor apresentada na defesa de seus pensamentos.

Uma coisa é certa, enquanto os japoneses choram pelas suas vítimas, pela dor da tragédia, nós teologizamos distantes, impassíveis, apáticos quanto ao seu sofrimento. Sinceramente, essas ideias não surgem na mente de quem está envolvido com as misérias dos que sofrem nem dos que se voluntariam em ajudar de alguma maneira. Deus tenha piedade de nós!



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O escafandro e a borboleta

Uma dica de filme bacana, um motivacional apesar de não ser um filme cristão.     por Juliana Dacoregio   Impossível assistir a O escafandro e a borboleta (França/EUA, 2007) e não pensar em valorizar mais a própria vida. É o pensamento mais simplista possível, mas é também o mais sábio. Eu estava com um certo receio de assistir ao filme. Sabia do que se tratava e não queria sentir o peso da tragédia daquele homem. É uma história realmente pesada. E por mais que Jean Dominique Bauby – que, baseado em sua própria história, escreveu o livro homônimo que deu origem ao filme – conseguisse rir apesar de sua situação, o riso dele faz só faz aumentar o nosso desconforto, por ficar evidente que seu rosto permanece estático enquanto há emoções em seu interior.   Bauby se viu preso em seu próprio corpo em 1995, quando sofreu um derrame que o deixou totalmente paralisado e incapaz de falar. Apesar disso ele não teve sua audição e visão afetadas e suas faculdades mentais continuar

William Barclay, o falso mestre

  O texto a seguir foi traduzido por mim, JT. Encontrado em inglês neste endereço . As citações de trechos bíblicos foram tiradas da bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA).     William Barclay, o falso mestre Richard Hollerman Estamos convencidos de que muitas pessoas não percebem o quão difundido o falso ensinamento está em nossos dias. Elas simplesmente vão à igreja ou aceitam ser membros da igreja e falham em ter discernimento espiritual com respeito ao que é ensinado pelo pastor, pregador ou outro "sacerdote". Elas meramente assumem que tudo está bem; caso contrário, o quartel-general denominacional certamente não empregaria uma pessoa em particular para representar sua doutrina publicamente. Esta é uma atitude desgraçadamente perigosa a sustentar, uma que nos conduzirá de forma desencaminhada e para dentro do erro. Alguns destes erros podem ser excessivamente arriscados e conduzirão ambos mestre e ouvinte à condenação eterna! Jesus nos advertiu sobre os farise

O natal por Ed René kivitz

O Natal não é um só: um é o Natal do egoísmo e da tirania, outro é o Natal da abnegação e da diaconia; um é o Natal do ódio e do ressentimento, outro é o Natal do perdão e da reconciliação; um é o Natal da inveja e da competição, outro é o Natal da partilha e da comunhão; um é o Natal da mansão, outro é o Natal do casebre; um é o Natal do prazer e do amor, outro é o Natal do abuso e da infidelidade; um é o Natal no templo com orquestra e coral, outro é o Natal das prisões e dos hospitais; um é o Natal do shopping e do papai noel, outro é o Natal do presépio e do menino Jesus. O Natal não é um só: um é o Natal de José, outro é o Natal de Maria; um é o Natal de Herodes, outro é o Natal de Simeão; um é o Natal dos reis magos, outro é o Natal dos pastores no campo; um é o Natal do anjo mensageiro, outro é o Natal dos anjos que cantam no céu; um é o Natal do menino Jesus, outro é o Natal do pai dele. O Natal de José é o instante sublime quando toma no colo o Messias. A partir daquela primei