Tem crescido no Brasil o volume das vozes que questionam as preocupações com o aquecimento global. Alguns dizem que o aquecimento não é grave. Outros que não é provocado pelo homem. Outros ainda que a Terra nem está aquecendo. Um deles, o professor Ricardo Augusto Felicio, da USP, questiona até a relação entre os gases CFCs e o buraco na camada de ozônio, uma descoberta que rendeu o Prêmio Nobel de 1995.
Na última semana, em paralelo à Rio+20, representantes do Instituto Hearthland , grupo de lobby anti-aquecimento nos Estados Unidos, declararam que o alerta sobre as mudanças climáticas é lobby das indústrias verdes.
Perguntamos para alguns pesquisadores de renome no Brasil e no mundo como eles enxergam a atual onda de ataque dos céticos:
James Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa e professor no Departamento de Ciências Ambientais da Universidade de Columbia, nos EUA:
“Os céticos atrasam as decisões diplomáticas ao plantarem supostas dúvidas onde existe consenso. Não há fundamento científico em suas suposições. A falta de ação trará consequências dramáticas para o planeta”.
Aaron McCright, da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA, pesquisador do perfil dos céticos americanos:
“Ao me debruçar sobre dez anos de pesquisa sobre meio ambiente, feitas pelo Instituto Gallup, notei que o grupo dos céticos era composto majoritariamente por homens brancos e conservadores. Sem dúvidas o ceticismo é um manifesto ideológico, uma característica de autoproteção. Quando você começa a falar sobre mudanças climáticas, impostos de carbono e mudanças no estilo de vida, algumas pessoas vêem isso como uma ameaça ao capitalismo e à prosperidade.
Mayanna Lahsen, antropóloga cultural do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), estuda a política da ciência das mudanças climáticas:
“Os céticos do clima estão aparecendo mais. Eles estão na TV e nas redes sociais, especialmente nos Estados Unidos. É preciso entender que os valores individuais contam muito entre os céticos. É por isso que os homens brancos e conservadores, que dominam a economia do país, tendem a ser mais céticos. Afinal tendem a perder mais com qualquer alteração no modo de produção”.
Adam Corner, pesquisador da Universidade Cardiff, no Reino Unido, e autor de um estudo sobre as motivações que levam as pessoas a se tornarem céticas:
“A opinião que se tem sobre as mudanças climáticas depende mais da ideologia de cada indivíduo que da capacidade de entender o fenômeno cientificamente. Boa parte dos céticos tem um bom grau de instrução e se autodeclara conhecedor da ciência”.
Dan Kahan, da Universidade de Yale, nos EUA, pesquisou a estratégia dos céticos para revelar seus argumentos. Seu estudo foi feito com 1,5 mil adultos americanos e publicado na revista Climate Change:
“Há um padrão no argumento dos céticos. Eles tendem a se concentrar em pequenas partes do quebra-cabeça, ignorando o conjunto. Boa parte não desconsidera o aquecimento global como fenômeno climático, mas não acredita que a atividade humana seja responsável por ele”:
Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo, trabalha com física aplicada a problemas ambientais, autor de 322 trabalhos científicos:
“É visível que o discurso dos céticos tem efeito na população. Recentemente passei a esclarecer em todas as palestras que as mudanças climáticas estão em curso e estão acontecendo. É uma dúvida que parecia superada, mas agora voltou a ser recorrente”.
Carlos Nobre, engenheiro do Inpe e secretário de Políticas e Programas de pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia:
“Enquanto deveríamos estar discutindo a melhor forma de enfrentar as mudanças climáticas, algumas pessoas voltam a questionar se ele realmente existe. Entre boa parte dos céticos há uma falta de projeção acadêmica. Talvez se jogar na direção oposta seja a única forma de aparecer”.
(Luciana Vicária)
Fonte: Blog do Planeta
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