“Eu prefiro ser…Esta metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”
Raul Seixas
Por Bráulia Ribeiro
Parece que tem sabedoria nas palavras do Raul, apesar de tudo. Provavelmente
quando cantava ele pensava estar criticando o status quo, a estrutura vigente. E
nada mais representativo desta estrutura do que o cristianismo. Ele com certeza
achava que estava batendo de frente com o pensamento cristão…
Mas será que estava? Somos criticados, nós os cristãos, por mantermos
padrões, seguirmos doutrinas e dogmas. Mas o cristianismo vivo e dinâmico nos
leva para muito além dos dogmas, aliás chega a chamar os dogmas de idolatria.
Este cristianismo nos incentiva a “conhecer e prosseguir conhecendo”(Oséias
6:3), numa busca incessante e sincera: “buscar-me-eis e me achareis quando me
buscares de todo coração” (Jeremias 29:13) Este conhecimento também além de
dinâmico deve gerar em nós algum tipo de transformação pessoal. Não é meramente
intelectual, mas é vital, humano, entra fundo em nós gerando mudanças
constantes.
Só é capaz de buscar aquele que não tem. Para que possamos ser a motivados a
continuar conhecendo, temos que reconhecer que não sabemos. Este é o estado de
alma da metamorfose ambulante. Estou sempre disposto a mudar através do
conhecimento que adquiro. Me metamorfoseio constantemente numa nova pessoa,
através de mais revelação da pessoa de Deus. Quanto mais me aproximo d’Ele mais
preciso conhecê-lo e ser transformado. A isto se referiu Carlos Finney, grande
avivalista do século XIX, quando dizia que devemos nos converter todos os dias.
O que conheço de Deus hoje não é o suficiente, preciso mais, ainda que este
conhecimento novo venha questionar idéias anteriores, desafiar meus conceitos,
ou gerar novos paradigmas de comportamento na minha vida.
O cristão não dogmático (soa como uma contradição de termos para você? Pois
não é…) não é um cristão sem convicções profundas. Mas ao invés de valorizar em
primeiro lugar a doutrina à respeito de seu Deus ele valoriza seu relacionamento
com o próprio Deus. O Deus vivo, dinâmico, que muda, não em caráter e valores
morais, mas que muda na sua estratégia de confronto com o ser humano, na
dispensação da sua presença, na quantidade de revelação que derrama, Deus que
encobre coisas (Deuteronômio 29:29) mas que as revela aos justos (Daniel 2:47).
O Deus que vai “brilhando mais e mais.” na nossa vida, “até ser dia perfeito”
(Provérbios 4:18).
O preço desta vida de metamorfose é muitas vezes uma certa insegurança. Para
onde estou indo? Será que isto é certo? É tão fácil se segurar em convenções,
que todos o fazem, principalmente os não cristãos… O próprio Raul tinha dogmas.
Eram com certeza, os não-não. – Não há Deus, não há caráter humano que preste –
não há nada bom no velho, no “establishment”, e com certeza não há nada de bom
que se possa esperar no novo também…
A diferença de um cristão e de um pseudo livre-pensador é que o cristão sabe
que é limitado, que conhece apenas em parte á e de que necessita de uma âncora
além de si mesmo para se segurar. Esta âncora não é um dogma doutrinário, mas o
relacionamento com uma Pessoa, amorosa, sensível e divina. O cristão deve a esta
Pessoa submissão e humildade. Ele tem que trazer sua mente escravizada a esta
pessoa: “trazendo cativo todo pensamento à pessoa de Cristo.”(II Coríntios
10:5). Mas o intelectual-liberal no entanto não “deve” nada a ninguém. Ele é seu
próprio Deus. Sua âncora é sua razão e nela está seu orgulho. “firmado com os
pés no estribo de sua própria razão” (Provérbios 3:6-7) ele nunca vai além de si
mesmo, anda em círculos ao redor de seus dogmas pessoais, e vive cego pela
idolatria da razão. Este não é capaz de se metamorfosear nunca, porque não há
mudança possível para alguém cuja única referência são suas próprias idéias…
Ah, Raul, quão enganado você estava…
Fonte: Ultimato
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