Leia e reflita
Churrasco do Carlão
Carlão era um sujeito carismático. Em sua casa sempre havia um churrasco aos domingos. Muita gente, muita alegria e descontração leve.
Mas o tempo passou e o Carlão morreu. Por estes tempos o Churrasco do Carlão já era famoso e a família, junto com a recente empossada Comissão de Amigos do Carlão, resolveram instituir o Primeiro Churrasco do Carlão que seria anual e com convidados de vários locais onde ele tinha amigos. Vinha gente de todo Rio de Janeiro e de outros estados também. Tudo regado a muito pagode, cerveja e, claro, carne de primeira.
Lá pelo segundo ou terceiro ano de churrasco A Comissão dos Amigos do Carlão resolveu adotar algumas regras básicas.
De início a comissão decidiu que somente o costume definido pelo Carlão, no início dos primeiros churrascos, eram as válidas.
Assim, estava decidido de início que:
1) Somente o pagode era o ritmo. Isso o fizeram a fim de contrapor a alguns “moderninhos” quer queriam ouvir funk;
2) A cerveja poderia vir acompanhada, em alguns momentos, de uma caipirinha pois o próprio Carlão, nos primórdios de seus churrascos, havia servido algumas vezes. No entanto com moderação já que o Carlão era diabético. Por isso o açúcar não era bem-vindo, sendo considerado uma bebida não muito bem vista pelos mais tradicionalistas;
3) Enfim, decidiu-se que carne só de primeira. Alguém chegou a comprovar que algumas carnes, mesmo que não de primeira, poderiam ser tão deliciosas quanto carne de primeira se fosse previamente descansada em sumo de abacaxi. No entanto, o que valia, diziam, era a decisão da Comissão dos Amigos do Carlão, pois eles representavam a tradição do Carlão, “motivo pelo qual o churrasco existia até hoje” nas palavras deles.
A família estava satisfeita com o sucesso do churrasco e resolveu então aprimorar o Churrasco do Carlão por conta própria:
» Fizeram um bonito logotipo onde se podia ver um chifre (de boi) com algumas gotas de sangue que pingavam de uma carne (de primeira, é claro);
» Confeccionaram camisas onde se via a logo e um slogan que dizia: “Churrasco do Carlão: uma grande família”;
» Determinaram que o Churrasco do Carlão só poderia ser realizado aos domingos visto que esse era o dia onde a carne era melhor, o pagode mais solto e a cerveja mais gelada;
» Instituíram que, para reafirmarem sua amizade ao Carlão todos deveriam comparecer a, pelo menos, 87,5% dos Churrascos. Do contrário seriam descredenciados e perderiam sua condição de alegres pois era a participação naquele churrasco – e acontecia ao som de muita música, muito risos e muitos grupos de diversão diversos –, que conheceriam a verdadeira alegria.
Houvera ainda muitas outras regras. No entanto não caberiam aqui nessas poucas páginas. Por isso, sugiro aos leitores que a procurem. Não será difícil de serem encontradas.
No entanto passados poucos anos houve uma cisão entre os responsáveis, pois a Comissão dos Amigos do Carlão tivera alguns desentendimentos com a família do Carlão. Esta dizia que eles amavam o Carlão “de verdade” e não por interesse nos churrascos que ele proporcionava. Aqueles, por sua vez, afirmavam que eram a verdadeira representatividade do Carlão no Rio de Janeiro, no Brasil, e porque não, no mundo. A esta primeira cisão deu-se o nome de “Cisma-dos da Penha” (cidade onde se iniciou o Churrasco do Carlão) acontecida no ano 2000.
Com isso A Comissão formou o seu próprio churrasco do Carlão dessa vez com o nome de “Churrasco de Primeira do Carlão”. A família do defunto assumiu o nome de “Churrasco Ágape do Carlão”.
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Não demorou muito e tudo ficou um pouco diferente daqueles dias onde o Carlão apenas reunia alguns amigos para comer um churras, ouvir um bom pagode e tomar uma cerveja geladíssima.
Agora, passados 8 anos, já há 38 diferentes nomes para o Churrasco do Carlão entre eles, “Churrasco gaúcho tradicional do Carlão”, “Churrasco A Peteca não cai do Carlão”, “Churrasco de Segunda de Meriti do Carlão” e muitos outros.
No entanto o próprio Carlão apenas dizia que, se alguém queria participar de um churrasco com ele, bastava que gostasse dele, Carlão, e nada mais. Dizia também que não queria saber se o vizinho dele estivesse fazendo um churrasco ao lado da casa dele porque, para ele, o que importava é que todos estivessem se divertindo.
Enfim, o pagode calou, a cerveja esquentou e a carne queimou.
Quanto ao Carlão, ninguém mais se lembra quem era.
Fonte: Dos dois lados do equador // Imagem de HigherPraise
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