Daniel Considine escreveu na década de 1930: "Nunca houve uma mãe tão cega para os erros do filho quanto o Senhor para os nossos".6 Portanto, nunca devemos nos desani¬mar com nossos erros. Podemos começar a fazer isso se não ficarmos surpresos com eles. Uma criancinha que não sabe andar direito não se surpreende com seus tropeços e quedas a cada passo que dá. Embora a gravidade do pecado não deva ser minimizada, desperdiçar tempo deplorando o passado man¬tém Deus longe de nós. Como disse o Pastor de Hermas no segundo século: "Pára de bater na tecla dos teus pecados e ora pedindo justiça".
Qual a utilidade de nossa vida de oração, de nosso estudo da Bíblia, da teologia ou da espiritualidade, se não confiamos naquilo que aprendemos? Ficar num vai e vem entre um sim definitivo e um não desanimador nos mantém num estado de procrastinação terminal. Da mesma forma, uma ênfase exclusi-va nas questões teológicas e quentes da moda (muitas das quais não são nem quentes nem teológicas) ou uma ênfase unilateral nas questões urgentes de justiça social podem temporária ou permanentemente adiar uma decisão de confiar no amor de Deus, mantendo-nos assim num estado de limbo espiritual.
Minha avó paterna costumava dizer: "Viver sem correr riscos é correr o risco de não viver". O caminho da confiança é uma coisa arriscada, não há dúvida sobre isso. Mudar de profissão de uma hora para outra porque não nos sentimos realizados, assu-mir o cuidado extenuante dos pais idosos, isolar-se por três dias em silêncio e solitude com Jesus sem ficar estressado, fazer um trabalho voluntário no subSaara com somente alguns escassos recursos espirituais, assumir um cargo impopular com rumores
de descontentamento e medo nos bastidores, dominar a desilu-são quando ficamos de frente com o descrédito nos lugares onde menos se esperava — todos esses desafios exigem disposição para arriscar uma jornada rumo ao desconhecido e prontidão para confiar em Deus mesmo no meio das trevas.
É claro que não se deve agir impulsivamente. Toda e qualquer decisão mais importante deve ser precedida por um pro-cesso de discernimento cuidadoso, e isso envolve família, amigos e um mentor espiritual. Mas quando chega a hora certa, somente o discípulo que confia com determinação em Deus ousará correr o risco. E essa confiança não parte da ingenuida-de, mas há consciência de que a possibilidade de errar e de se dar mal é bem concreta. Mas sem se expor à possibilidade de fracasso, não existe risco.
Brennan Manning, Confiança cega (ed. Mundo Cristão)
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