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Nosso Inimigo está em todos os lugares?

O mundo ocidental de hoje, que perdeu o conhecimento de Deus, está atualmente no processo de perder o conhecimento do homem e de Satanás.
 
Por J. I. Packer
 
O primeiro princípio da demonologia correta é que você não pode ter uma idéia a respeito de Satanás mais adequada do que você tem de Deus. Isto se dá porque Satanás é uma criatura de Deus e as criaturas devem ser compreendidas em relação ao seu Criador.

O mundo ocidental de hoje, que perdeu o conhecimento de Deus, está atualmente no processo de perder o conhecimento do homem e de Satanás. O homem é visto como nada mais que um tipo de macaco; Satanás é visto como nada mais que um bicho-papão medieval (uma suposição doentia), e a tentação está reduzida ao conflito entre nossas naturezas superior e inferior (o ego e o id de Freud). Nós necessitamos de clareza bíblica e devemos começar por acertar nosso pensamento a respeito do próprio Deus.

Como, biblicamente, devemos pensar sobre a onipresença de Deus? A palavra significa que Deus conhece exaustivamente e sustenta e toca continuamente, cada item do universo que Ele fez, dos menores genes e elétrons às estrelas de maior massa no universo em expansão, às mais complexas interações de corpo e mente na “psiquê” de mais de 6 bilhões de pessoas. Deus está aqui, lá, em todo lugar, e sua mente e mão estão em todas as coisas. Nós nunca estamos fora da sua vista, e não podemos fugir dele. Onde quer que nós estejamos, Ele também está. Isto não é simplesmente uma questão de transcender fronteiras espaciais. Falando estritamente, Deus não tem localização nenhuma no espaço, pois o espaço pertence à ordem das coisas criadas e existe nele ao invés dele existir no espaço. Tal é a onipresença de Deus.

O que pensar, então, de “seu inimigo, o diabo” (1 Pedro 5.8)? "Diabo" quer dizer caluniador, através de maldade e declarações falsas; "Satanás" quer dizer adversário. Ele é chamado o maligno e inimigo (Mateus 13.19), um assassino e pai da mentira (João 8.44), que “tem pecado desde o início” (1 João 3.8). Ele é um anjo, uma das criaturas pessoais de Deus que não tem corpo, que Deus fez para a alegria que o próprio Deus e eles encontrariam em seu louvor, comunhão e serviço (para este fim, Ele também fez humanos).

Mas Satanás é um rebelde e corrupto. Ele lidera os anjos, que de acordo com 2 Pedro 2.4, estão agora sob controle em “masmorras” e “cadeias” e encaram o julgamento do fogo eterno pelos seus pecados (Mateus 25.41). Estes anjos caídos, cujo caráter é modelado na sua primeira transgressão, como mais tarde seria o de Adão, são chamados demônios no Novo Testamento. Deus restringe-os ao limite do que podem fazer, mas sua hostilidade em relação a Deus e ao que é de Deus não tem limites. Arruinar a obra de Deus, contrariar sua graça e trazer-nos à ruína espiritual é seu objetivo comum com Satanás.

Chamado “o tentador” em 1 Tessalonicenses 3.5, Satanás busca levar os servos de Deus à armadilha de fazer o mal achando que este é bom e apostatar para a descrença, o que torna a obediência impossível e a desobediência inevitável. Portanto, ele atormenta todos os cristãos (Efésios 6.11–13). Os crentes entram com Deus na guerra contra Satanás e não deveriam ficar surpresos quando este abre fogo contra eles.

Satanás tenta muitas pessoas simultaneamente – será que isto significa que ele é onipresente? Não. A onipresença, como vimos, é característica apenas do Criador. Satanás vem e vai (Mateus 4.3, 11; Jó 1.7–12). Então, como ele consegue pôr em prática estas tentações múltiplas? A Bíblia não diz, mas duas teorias são comuns.

Teoria um, reconhecendo que todos os anjos têm poderes além dos nossos para moverem-se por aí e examinar as pessoas, pressupõe-se que Satanás tem o poder da "multipresença"— não "onipresença", mas não tão limitado espacialmente como os humanos.

Teoria dois, com certeza a mais natural, é que os escritores do Novo Testamento fazem o que nós fazemos quando falamos de guerras—ou seja, atribuem toda a ação hostil ao líder adversário. "Hitler (ou Napoleão) atacaram", nós dizemos, quando, de fato, subordinados agiram ao comando de seus líderes. A maioria dos cristãos, como C. S. Lewis, em Cartas do inferno, tem esta visão de alguma maneira, e foi sempre assim.

De um modo ou de outro, a exortação de Tiago, "Resisti ao diabo e ele fugirá de vós" (4.7), explode qualquer idéia da onipresença de Satanás prometendo momentos quando ele não estará conosco. Jesus conheceu tais momentos (Lucas 4.13) e o mesmo é possível a nós.
 
J. I. Packer é editor senior da Christianity Today, e professor emérito de teologia na Regent College, em Vancouver. Seu livro publicado em português mais conhecido é O conhecimento de Deus.
 
Fonte: Cristianismo Hoje com o título original de "Satanás é onipresente?"

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