Esse texto de Ziel Machado no Cristianismo Hoje tem como subtítulo "A crítica como uma forma construtiva de edificar a Igreja". Bom para refletir sobre a forma como criticamos a igreja de hoje e também como lidamos com as críticas que lemos aí na net.
A pergunta do rei Juan Carlos de Espanha ao presidente venezuelano Hugo Chávez, na Cúpula Ibero-Americana realizada no Chile, em novembro passado [na verdade, novembro de 2007], já foi imortalizada no folclore político. O constrangimento daquela situação chamou minha atenção para a necessidade de se qualificar a crítica quanto a seu conteúdo, sua forma, motivação e momento. Quatro elementos que, quando não são tomados em conta, podem desqualificar até mesmo uma crítica justa. Fiquei pensando na forma como hoje se critica este segmento da sociedade denominado Igreja Evangélica. Em muitos casos, as críticas públicas que se fazem a ela estão impregnadas de uma visão ingênua sobre a ambigüidade dos projetos e realizações humanas, como se a tarefa de fazer a distinção entre o trigo e o joio fosse algo fácil. Outras vezes, o esforço crítico está impregnado de ressentimento, sem falar em personalidades narcisistas, suportadas por grupos de narcisistas complementares que encarnam o espírito cruzadista moderno. A alternativa à crítica inadequada não é a ausência de contestação, mas sim, sua qualificação em conteúdo, momento, motivação e forma. O Senhor Jesus nos deu o exemplo. A forma como se dirige às sete igrejas da Ásia, no Apocalipse, oferece-nos uma excelente perspectiva de como reconhecer e afirmar o que é bom; ao mesmo tempo, indica o que deve ser corrigido. É bom lembrar que a descrição da situação de cada uma daquelas comunidades cristãs, e a exposição de seus respectivos problemas, não impediram o Senhor de chamá-las de “minhas igrejas”. A literatura apocalíptica tem por finalidade colocar o momento presente à luz da perspectiva das realidades, ainda não vistas, do futuro, assim como de colocar o momento presente à luz das realidades, não vistas, do presente. Portanto, aquele que anda no meio de sua Igreja e que conhece suas obras primeiro se apresenta de forma distinta a cada congregação em particular. Em seguida, revela seu conhecimento de cada situação – elogia o que deve ser elogiado e critica o que deve ser criticado; chama ao arrependimento e alerta para as conseqüências dos erros; adverte cada uma e termina com promessas. Fico me perguntando: o que nos quer comunicar o Senhor por meio desta estrutura? Aproximadamente 60 anos após a morte e ressureição de Jesus, sua Igreja enfrentou uma crise cristológica. As comunidades descritas no Apocalipse esqueceram aspectos importantes de seu Senhor e se tornaram parecidas com o que se via no seu entorno social. Por esta razão, o Senhor decide enviar uma carta aos seus servos, e o faz por meio de seu servo João. Este, exilado na Ilha de Patmos, recebe a revelação – e a partir dali, o Filho de Deus expressa suas impressões sobre diversas congregações, com o conhecimento de quem “conhece suas obras”. Foram críticas mais que legítimas, portanto. Em que contexto nascem as nossas críticas? Será que as mesmas expressam toda a reverência devida àquele que “anda no meio da igreja e conhece as suas obras’? Será que nossa crítica ao Corpo de Cristo hoje pode ser vista como expressão de adoração ao Senhor da Igreja? Será que ela nasce de uma íntima relação com o Senhor ou apenas dos nossos limitados pontos de vista? Como poderíamos depurar nossa crítica através do conhecimento que só aquele que anda no meio de sua Igreja dispõe? Talvez, enquanto não nos seja possível responder de forma adequada a tais indagações diante do Senhor que também conhece nossas obras, o melhor seja considerar a pergunta do rei de Espanha: “Por que não se cala?”
Imagem da Revista Época
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