Enquanto Jesus disse que não aceitava a glória dos homens, nós cantamos, pregamos, pastoreamos e até limpamos o chão da igreja com a intenção exclusiva de receber elogios, aplausos e reconhecimentos por nossas obras.
Enquanto Jesus lavou os pés dos discípulos colocando-se na posição serviçal de escravo, nós queremos ser tratados como senhores e nos consideramos ultrajados quando nos pedem para ajudar a arrastar um simples banco de igreja.
Enquanto Jesus andava na companhia dos pobres e marginalizados, nós buscamos estar ao lado de pessoas célebres que possam nos oferecer algum tipo de vantagem.
Enquanto Jesus disse que devemos amar e abençoar os nossos inimigos, nós entregamos nossos desafetos nas mãos de Deus, na esperança de que alguma desgraça venha a lhes acontecer.
Enquanto Jesus chorava pelos que se perdiam, nós utilizamos o púlpito da igreja para louvar alegremente e engrandecer ao Senhor por Ele ter matado de câncer alguém que nos maltratou.
Enquanto Jesus aceitou, no Getsêmane, o cálice de sofrimento que Deus tinha lhe preparado, nós não aceitamos nenhuma situação de tribulação em nossas vidas, pelo fato de dizerem, por aí, que a vida do crente é só de vitória.
Enquanto Jesus chorou abundamente pelos pecados de Jerusalém e pela morte de Lázaro, nós choramos somente quando assistimos a cenas românticas de novela, manifestando total indiferença para com as desgraças alheias e as misérias que assolam este mundo pecaminoso.
Enquanto Jesus dizia que o reino dele não era deste mundo, nós sonhamos em construir impérios neste planeta, esquecendo que a nossa pátria é celestial.
Enquanto Jesus ensinou que os últimos serão os primeiros e que o maior deverá ser o menor, nós sonhamos sempre com as primeiras posições, estando dispostos a passar por cima de todo aquele que se coloque à nossa frente.
Enquanto Jesus disse para perdoarmos setenta vezes sete, nós achamos que a única coisa que o nosso ofensor merece é a vingança.
Enquanto Jesus perdoou a Pedro, dando-lhe uma nova chance, embora o tenha negado três vezes, nós costumamos ser duros e inflexíveis com aqueles que erram conosco.
Enquanto Jesus corajosamente perguntou aos seus discípulos se eles queriam também seguir as pessoas que se retiravam, escandalizadas com a sua dura palavra, nós procuramos agradar a multidão com o doce e suave evangelho do comodismo.
Enquanto Jesus chamava de bem-aventurados os que choram e sofrem perseguições, nós reputamos como amaldiçoados de Deus qualquer um que esteja passando por tribulações.
Otto Borchert em seu livro "O Jesus Histórico" expressou muito bem essa profunda oposição entre o Jesus descrito no Novo Testamento e os cristãos de hoje:
"A oposição da época em que vivemos tem mais significado do que qualquer coisa que observamos até agora. Porque nós, filhos do século XX, estamos acostumados à história de Jesus, e fomos criados segundo a Sua maneira de pensar. O Cristianismo tornou a religião comum e, tendo sido alterada em muitos aspectos, ela se ajustou a nós, de várias maneiras, como um paletó velho e confortável que agora vestimos sem mesmo pensar. E não obstante, o Fundador do Cristianismo não continua em conflito com as nossas idéias? Como Ele nos é estranho e diferente? Em comparação com a maneira de agir dos homens terrenos, os Seus modos de agir parecem ter sido trazidos de longa distância - do céu."
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