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Quando a graça desce, o mundo fica em silêncio.

O filme-documentário de Bill Moyers a respeito do hino Amazing Grace inclui uma cena filmada no Estádio de Wembley, em Londres. Diversos grupos musicais, principalmente bandas de rock, estavam reunidos celebrando as mudanças na África do Sul e, por algum motivo, os responsáveis pelo evento selecionaram uma cantora de ópera, Jessye Norman, para o número final.

O filme pula para trás e para frente entre as cenas da multidão indisciplinada no estádio e Jessye Norman sendo entrevistada. Durante doze horas grupos de rock como Guns'n 'Roses estiveram atordoando a multidão com palavras de ordem, irritando os fãs já alterados com álcool e drogas. A multidão grita pedindo mais apresentações no palco e os grupos de rock atendem.

Enquanto isso, Jessye Norman está sentada em seu camarim discutindo Amazing Grace com Moyers.

O hino fora escrito, como se sabe, por John Newton, um mercador de escravos vulgar e cruel. Pela primeira vez ele clamou a Deus no meio de uma tempestade que quase o jogou para fora do navio. Newton viu a luz gradualmente, continuando a exercer o comércio mesmo depois de sua conversão. Ele escreveu o hino "How Sweet the Name of Jesus Sounds" [Como é doce o nome de Jesus] enquanto esperava em um porto africano um carregamento de escravos. Mais tarde, entretanto, renunciou à atividade profissional, tornou-se ministro e juntou-se a William Wilberforce na luta contra a escravidão. John Newton nunca perdeu de vista as profundezas das quais foi tirado. Ele nunca perdeu de vista a graça. Quando escreveu "... que salvou um miserável como eu", queria dizer isso mesmo de todo o seu coração.

No filme, Jessye Norman conta a Bill Moyers que Newton talvez tomasse emprestada uma antiga melodia cantada pelos próprios escravos, redimindo a canção, exatamente como ele fora redimido.

Finalmente, chega a hora de ela cantar. Um simples círculo de luz acompanha Norman, uma majestosa mulher afro-americana usando um esvoaçante dashiki africano, enquanto atravessa o palco. Sem nenhum acompanhamento, sem instrumentos musicais, apenas Jessye. A multidão se agita, nervosa. Poucos reconhecem a diva da ópera. Uma voz grita pedindo Guns'n'Roses. Outros se juntam ao grito. A cena começa a ficar pesada.

Sozinha, a capela, Jessye Norman começa a cantar, muito lentamente, os primeiros versos do hino.

Uma coisa espantosa aconteceu no Estádio de Wembley naquela noite. Setenta mil fãs roucos ficaram em silêncio diante da ária da graça.

Quando Norman chegou à segunda estrofe: "Tal graça me levou a temer assim que em Deus eu cri...", a soprano já tinha a multidão em suas mãos.

Ao chegar à terceira estrofe: "Por provas duras passarei... mas pela graça irei morar na eternal mansão..." diversas centenas de fãs estavam cantando junto, cavando profundamente em lembranças já esquecidas em busca das palavras que haviam ouvido há muito tempo.

Jessye Norman mais tarde confessou que não tinha idéia do poder que desceu sobre o Estádio Wembley naquela noite. Acho que sei o que era. O mundo tem sede de graça. Quando a graça desce, o mundo fica em silêncio diante dela.

Philip Yancey - Maravilhosa Graça

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