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O que os estudos sobre oração têm provado

Muito bom o texto a seguir! Ele tem ciência, bíblia, reflexão, C. S. Lewis e curiosidade. Leitura altamente recomendada!
 
 
Praying little girl in green top with ponytails, studio photo
 
 

Quando um importante estudo supõe que a oração intercessória pode prejudicar pacientes ao invés de curá-los, devemos realmente nos surpreender.

 
 
Seu médico deveria prescrever a oração como parte do seu tratamento? Um estudo realizado com 1.134 médicos, em dezembro passado, pela Health Care Direct Research, constatou que a maioria dos médicos acredita que milagres são possíveis (70%). Além disso, cerca de 29% acreditam que os efeitos dos tratamentos médicos estão relacionados às “forças sobrenaturais” e ao “agir de Deus”.

Estudos sobre oração na medicina têm uma maneira de demarcar um limite entre os crentes e os céticos: os cristãos esperam por uma prova cientifica sobre a eficácia da oração. Os críticos, esperam o oposto, enfraquecer a fé religiosa. Para o bem ou para o mal, vemos várias tentativas de medir o efeito curador das orações intercessórias. O primeiro estudo conhecido foi lançado em 1982 pelo inglês Francis Galton. Ele não encontrou evidência de que a oração prolonga a vida ou evita que crianças morram prematuramente.

Mais recentemente, várias experiências com oração têm chamado atenção dos evangélicos, que estão interessados em mostrar uma conexão positiva entre a fé e a ciência. Uma que gerou uma excitação particular foi o estudo lançado em 1983, por Randolph Byrd, que observou 393 pacientes internados com problemas coronários no mesmo hospital (San Francisco General Hospital). Metade dos pacientes recebeu oração de “cristãos nascidos de novo, com orações devocionais diárias e uma comunhão ativa em igreja local”. A outra metade serviu como um grupo de controle (eles não receberam oração). Nesse estudo, o grupo que recebeu oração superou significativamente o grupo de controle.

Porém, a publicação de Byrd recebeu várias críticas logo de cara, incluindo a falta de parcialidade, e a dependência de outros fatores em alguns efeitos.

O efeito desse e de outros problemas metodológicos, tornou o ensaio de Byrd obscuro demais para servir como evidência da ação direta de Deus na cura. Tais controvérsias são freqüentes quando o assunto une ciência e oração: poucos pacientes; pesquisadores e teses parciais; medição inválida dos efeitos; métodos inapropriados de estatística; problemas supérfluos; e suspeita de fraudes.

Um estudo comemorado - Mas há três anos, os resultados de um proeminente estudo, cuidadosamente designado para deixar de lado o debate, veio à público. Ele recebeu atenção naquele momento, mas pareceu escapar da vista de vários cristãos, provavelmente por apresentar surpreendentes – e para cristãos, perturbadoras – conclusões. O Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP), conduzido sob o cuidado da Harvard Medical School, foi de longe o mais abrangente do gênero. O estudo requereu 10 anos e 2,4 milhões de dólares, e foi assinado pela John Templeton Foundation, um suporte para estudos que exploram a intercessão entre a ciência e a fé.

O STEP foi simples e elegante, de acordo com o padrão de pesquisa e protocolo: 1.802 pacientes, todos internados para fazer um enxerto de artéria coronária, foram divididos em três grupos aleatórios. Dois dos grupos receberam oração de cristãos comprometidos, acostumados a orar por doentes. Mas apenas um dos grupos sabia que estavam recebendo oração. Resultado: o grupo que sabia que estava recebendo oração piorou em termos de complicação pós-cirúrgica, quando comparado ao grupo que não sabia das orações. O conhecimento de que eles estavam sendo orados por intercessores parece que teve um efeito negativo sobre suas saúdes. Os dois grupos que não sabiam se estavam recebendo orações foram comparados. Um deles realmente recebeu oração (mencionado acima) enquanto o outro não. Dessa vez, o grupo que recebeu oração obteve mais complicações do que o grupo sem o acréscimo da oração. Em outras palavras, o estudo parece mostrar que a oração – pelo menos oração de pessoas desconhecidas – pode ser ruim para a saúde de uma pessoa. O resultado foi desapontador para aqueles que esperavam ver efeitos positivos na oração intercessória (provavelmente também foi uma surpresa para os céticos, que esperavam não encontrar nenhum efeito).

Muitos têm questionado a validade do estudo, inclusive os próprios autores, que alertaram sobre “... estar ciente de que intercessores desconhecidos... podem ter causado nos pacientes uma espécie de ansiedade”. Isso pode ter deixado os pacientes em dúvida, surpreendidos, “eu estou tão doente que eles precisaram chamar um time de oração?”. A resposta dos evangélicos incluiu a observação de que muitos pacientes, apesar de tudo, estavam eles mesmos orando por si e tinham amigos e familiares que oravam por eles (96% disseram que tinham outras pessoas orando por eles). Esse fato poderia suprimir qualquer conseqüência das orações adicionais. Outros cristãos alegaram que a investigação das orações intercessórias é problemática, citando exemplos do novo testamento em que curas físicas aconteciam diretamente através de pessoas – um cenário onde seria impossível testar qualquer forma imparcial de pesquisa. A terceira resposta foi que “Deus não está sujeito a nenhuma pesquisa cientifica”.

C. S. Lewis antecipou um cuidadoso estudo sobre oração, mas ele não achou que isso iria revelar algo de positivo, como resultados que podem ser medidos. “O problema é que eu não vejo o quanto uma oração verdadeira poderia prosseguir sob esses efeitos”, disse Lewis. “Recitar orações apenas não é oração; por outro lado, um time de papagaios devidamente treinados serviria tão bem quanto pessoas para o nosso experimento”. Ele argumentou que sua aproximação com a oração o fez considerá-la como se fosse mágica, ou uma máquina – algo com funções automáticas. Uma acusação sem intenções, mas profeticamente apontada para o STEP e para outras tentativas bem intencionadas de medir a oração. Se Lewis estiver correto, muitas tentativas terminarão tentando medir alguma coisa mais parecida com mágica do que com a real intervenção de Deus.

Ironicamente, o STEP, na verdade, dá um suporte ao modo cristão de ver o mundo. O nosso Deus não tem qualquer semelhança com uma máquina de venda. O verdadeiro escândalo do estudo não é que o grupo de oração tenha dado errado, é que a oração feita sem grupos tenha recebido tanta, se não mais, bênçãos de Deus. Em outras palavras, Deus parece ter garantido seu favor sem se preocupar com a quantidade nem com a qualidade das orações. Por instinto, nós podemos egoisticamente preferir que Deus dê tratamento preferencial àqueles que são orados corretamente, mas Ele parece agir de outra maneira.

Deus parece estar inclinado a curar e abençoar tanto quanto possível. É como se Ele pudesse impedir a si mesmo de fazer uma intervenção sobrenatural e separar a natureza do universo para cuidar daqueles que Ele ama, estejam eles conscientes disso ou não. Deus ouve as orações do dirigente do time de orações do STEP? Sim. Porém, mais do que isso, Ele respondeu as orações dos pacientes, de seus amigos e parentes, e quem sabe, até daqueles que não sabiam que estavam recebendo oração.

Por que orar? – Se isso for verdade sobre o nosso Deus, então uma questão é levantada: para que se esforçar tanto para orar se Deus é realmente generoso? Essa é outra forma de fazer a pergunta: Qual é o mínimo requerido de mim para que minhas orações sejam aceitas? Essas questões expõem a fraqueza do nosso desejo modernista de saber se a oração “funciona”.

Descobrindo que Deus de fato está respondendo as orações, nós tropeçamos na mais profunda e perturbadora realidade: que suas respostas geralmente não nos fornecem o onde, o quando e o como gostaríamos de agir.

As Escrituras atestam essa realidade. Por exemplo, Deus respondeu às orações de Israel para libertá-los das mãos de Faraó, mas sua resposta – quando ela finalmente veio – era inesperada, imprevisível, e nada dócil (como a geração seguinte pôde atestar no deserto). As orações de Israel para tirá-los do domínio de César provaram ser ainda mais imprevistas, para muitos, inaceitáveis. Desse modo, não é uma surpresa Jesus ter falado para orarmos “até que seja feito”, como ele mesmo orou em todo o tempo no Getsêmani. Em tudo isso, nós descobrimos que a nossa obsessão em descobrir como a oração funciona é um questionamento equivocado. Nós sabemos o que a oração faz. A questão é: Nós estamos preparados para a resposta de Deus?
Não surpreendentemente, aqueles que receberam a resposta de Deus pelo clamor de Israel por um Messias, eram pessoas de oração. A profetisa Ana, que passou a maior parte de sua vida adorando no templo, foi uma das primeiras pessoas a reconhecer isso. Lídia, que enxergou a verdade do evangelho e abriu as portas para Felipe, estava no lugar certo, na hora certa, porque ela estava orando. Apesar disso, oramos não só porque Deus responde nossas orações. Também oramos de forma que seja possível reconhecer e receber as respostas de Deus, saber como ele responde, e também para vislumbrar Deus.

Muitos médicos acreditam em milagres e na realidade de causa e efeito da sua profissão. Milagres acontecem, mas eles acontecem a todos porque somos amados por Deus, quer estejamos em rebelião ou não. O que é esquecido pelos médicos, e por nós, é como vamos reagir. Deveríamos estar instruídos para impedir afirmações mágicas ou mecânicas sobre o evangelho. O STEP nos encoraja a acreditar que Deus está ansioso para responder nossas orações sem se preocupar com a nossa competência na oração ou com o nosso conservadorismo. Isso deveria nos dar confiança para agir, acreditar, e trabalhar lada a lado com o bondoso e generoso Rei, que nos chama para fazer avançar seu reinado, trazendo cura para o mundo, e oração.
 
Matéria de Gregory Fung e Christopher Fung no Cristianismo Hoje com o título original de O que os estudos sobre oração provam?
 

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