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Mark Driscoll - Pastor provocador


Mark Driscoll é realmente um pastor diferenciado. Sua passagem pela Igreja Emergente, sua teologia reformada e seu plano de ter uma grande igreja assusta muita gente.

Mark Driscoll não está usando nada diferente daquilo que usa em qualquer outro dia. Ele está vestindo seu uniforme de pastor – calça Jeans e camisa para fora da calça com os dois botões de cima abertos. Fala num tom suave, indicando uma voz bem desgastada.

Começa falando sobre as lições aprendidas como plantador de igrejas apresentando conselhos de senso comum acerca do que leva os pastores a se queimarem no ministério. Driscoll, 36 anos, joga T-ball com seus três filhos ou alimenta patos com suas duas filhas. Coisas que dificilmente vão ocupar debates irados em blogs ou manifestações da igreja na rua. Enquanto a igreja de Driscoll, Mars Hill Church, em Seattle, chegava aos 6 mil membros em 11 anos, momentos tranqüilos como esses com sua família preservavam muito de sua sanidade.


“Estou jogando pesado agora”, Driscoll diz para futuros plantadores de igreja na reunião de Março da Acts 29, sua rede de 170 igrejas ao redor do mundo. “Esgotei minha taxa de adrenalina no fim do ano passado, de tanta que a usei. Meu sono ficou comprometido por meses.” Driscoll deve ter adrenalina extra guardada, porque ele se empolga ao recontar a história de Mars Hill.

“Meu primeiro grupo era formado por solteiros alternativos e roqueiros punks anarquistas”, diz. “Não tinham nada a dizer, não eram organizados e nem ofertavam generosamente. Se eu dissesse que ‘todo mundo pagava o dízimo’, bem, só se fosse em cigarros”.

Driscoll não consegue ficar muito tempo em frente a uma multidão sem agitar o ambiente. Isso é o que se espera de um pastor que aprendeu como pregar assistindo ao comediante Chris Rock. Quando você vê, ele já tem a atenção de todo mundo. “Se você tiver que ser um fundamentalista ou moralista... pegue coisas como tomar banho com sua esposa para falar de legalismo”, diz Driscoll com sua voz distinta e grave. “Não pegue nada estúpido como ‘não ouça rock’. Não sei quem são os responsáveis pelas escolhas dos temas legalistas, mas estão escolhendo os piores. Coma carne, tome banho junto e tire um cochilo – estes seriam os meus legalismos. Essas são coisas que posso fazer”.

Driscoll “parece um desses arrogantes universitários, veteranos de fraternidades”, diz The Seattle Times. Culpado da acusação. Se ele não o tivesse ofendido, você nunca teria lido seus livros ou ouvido seus sermões. Em qualquer domingo, em Mars Hill, é possível que um bombeiro-chefe visitante seja salvo. Mas isso será tão provável quanto alguém tirar satisfações com ele antes de ir embora.

O espectro de reações das pessoas é a resposta para a sua língua afiada – sua maior força e sua indiscutível fraqueza. Mas Driscoll também incomoda muitos companheiros evangélicos porque ele não parece se posicionar com respeito às fronteiras que nos dividem. Sua categórica teologia reformada foi absorvida pela igreja emergente. Seu plano de ter uma grande igreja soa aos pós-modernistas como arrogância. Suas raízes na “igreja emergente” preocupa os calvinistas. Ninguém demonstra apoio a ele. Talvez por isso todos apontem suas armas para ele.

Histórias diferentes - Driscoll me deu um abraço cordial quando nos encontramos em sua bela casa nova, situada numa agradável vizinhança onde você não esperaria encontrar esse pastor com reputação de “bad boy”. Sua testa parecia normal, não tinha inclinação (evidência de baixo QI). Ele também não estava bêbado. E se estivesse portando uma arma de fogo eu não poderia ver. Isso é o suficiente, levando em conta os estereótipos que os leitores da Christianity Today devem ter sobre ele, disse Driscoll.

Driscoll ganhou esta reputação quando milhares se encontraram com ele no Donald Miller’s Blue Like Jazz como Mark, o “Pastor Bocudo”. Seu background apresenta Driscoll não como um rebelde, mas como alguém acima da média. Seus colegas de escola em Seattle o elegeram presidente do Grêmio Estudantil. Ele também foi capitão do time de beisebol e editou o jornal da escola. Ele não havia lido a Bíblia até chegar à faculdade, quando folheou uma NVI oferecida pela atraente filha de um pastor. A princípio, Driscoll tomou o partido dos fariseus porque admirava seu autocontrole. Mas Deus logo lhe revelou que Jesus era o verdadeiro herói. Driscoll também ouviu de Deus que deveria se casar com a filha daquele pastor, hoje sua esposa, Grace.

Depois da faculdade, ele retornou para Seattle e trabalhou com estudantes universitários por um ano na equipe da Antioch Bible Church, uma das poucas grandes igrejas da região. Menos de 10% dos moradores de Seattle se identificam como evangélicos, e menos ainda continuam cultuando nas principais igrejas protestantes ou na Igreja Católica Romana. Em 1996, Driscoll fundou a Mars Hill, porque ele não via uma igreja em Seattle que compartilhasse sua visão de missão.

Ele agora usa os cultos de domingo para preparar os membros da igreja para ser missionários em Seattle. A estratégia de aproximação requer um alto grau de assimilação cultural, característica que compartilha com outros líderes emergentes. Por enquanto, Mars Hill tem feito contato com muitos moradores de Seattle através do Paradox, um concerto local promovido pela igreja e que recebe bandas sem vínculos cristãos. Antes disso, era um estudo bíblico ao ar livre, onde era permitido fumar, que fazia crescer a igreja.

No início da Mars Hill, Driscoll teve problemas para encontrar o equilíbrio entre uma sólida ortodoxia teológica e métodos flexíveis para alcançar as pessoas.

“Eu também não expliquei de forma escrita onde éramos teologicamente conservadores e culturalmente liberais, o que causou grande confusão. Metade da igreja estava com raiva da outra metade que fumava, enquanto a outra metade estava com raiva porque eu ensinava a Bíblia”, Driscoll escreve em Confessions of a Reformission Rev.

A igreja de aparência e ambiente nada convencionais atraiu grande atenção local, às vezes positiva. O templo principal é numa antiga loja da Napa Auto Parts, em Ballard, um distrito industrial que está cedendo espaço para hipsters urbanos. O simples e espaçoso edifício acomoda 1.200 pessoas num auditório escuro. Casais jovens rapidamente enchem o espaço do berçário.

A mobilização tem início bem antes dos cultos de domingo começarem, dando à adoração um ambiente de concerto. Muito embora eu tenha chegado mais de meia hora antes para o culto das 9h, os estudantes universitários rapidamente me cercaram e guardaram lugar na frente para os amigos. A música tem um jeito de rock alternativo.

Dois seguranças ladeavam o palco. Vestindo camisetas pretas apertadas e com os braços cruzados acentuando seus bíceps, eles permaneciam encarando a congregação. Fones de ouvido os conectam com o aparato de segurança de Mars Hill. Logo após uma das entradas da igreja está o quartel-general, apelidado de “sala de guerra”. Tudo isso parece exagero – até você ouvir as histórias.

No último outono, um homem portando uma faca invadiu o palco. Seguranças o desarmaram antes que ele pudesse atingir Driscoll. Certa vez, ele pregou usando um colete à prova de balas depois de ter recebido ameaças de morte. Como ele diria, isso é a vida na cidade onde ciclistas nus pedalam passando pela estátua de Lênin.

Driscoll, muito embora ainda emergindo, não pertence mais aos emergentes. Começando em 1995, viajou pelo país pregando em eventos promovidos pela Leadership Network, fora daquilo que cresceu como Emergent Village, em 2001. Foi quando Driscoll rompeu com eles. Ele começou a suspeitar de que os líderes emergentes queriam revisar a ortodoxia cristã. Desde então, Emergent Village tem defendido uma aproximação aberta, experimental à teologia. O coordenador da Emergent Village, Tony Jones, me disse que não se senta para conversar com Driscoll há cinco anos. Muito embora eles tenham divergido acerca de teologia, Jones elogiou as qualidades de Driscoll como líder.

“Ele tem uma inteligência incomum”, disse Jones. “Ele também é único na articulação e no humor. Poderia ter sido um comediante. Provavelmente poderia ter sido um grande ator”.

Mas Driscoll parece estar cansado de debates sobre o relacionamento da teologia com o pós-modernismo. Sabendo que seus ex-amigos emergentes não seriam persuadidos, ele, mesmo assim, apresentou 641 versos bíblicos fundamentando sua visão em apenas 14 páginas no Listening to the Beliefs of Emerging Churchs: Five Perspectives. Doug Pagitt, pastor da Solomon’s Porch, em Minneapolis, acerta ao afirmar: “Acho que muito da nossa diferença vem do fato de que, de muitas formas, estamos contando histórias distintas do cristianismo.”

Ofensor estratégico - Driscoll oferece uma lista claramente não-emergente de líderes evangélicos quando perguntado sobre quem o influenciou. Ele cita gigantes como John Stott, Francis Schaeffer, J.I. Packer, Charles Colson e Billy Graham. De um segmento mais jovem, John Piper e os teólogos D.A. Carson e Wayne Grudem compõem sua lista. Perguntado sobre os pastores de megaigrejas Rick Warren e Bill Hybels, ele diz que nunca os ouviu pregar, muito embora fale bem dos métodos deles. "De tudo o que você pode aprender com Packer e Schaeffer, eles não o ensinarão como pastorear uma igreja de 6 mil membros", afirma.

Para Driscoll, 6 mil é só um alvo-referência no caminho para os 20 mil ou mais. Gerry Breshears se recorda de Driscoll falando sobre o plano de crescimento para 2002. Driscoll não impressionou os ouvidos do titular da cadeira de Estudos Bíblicos e Teológicos do Western Seminary, em Portland, Oregon, logo de cara. Driscoll demonstrou um sarcasmo presunçoso, diz Breshears. Driscoll foi ao Western Seminary procurando ajuda para seu curso avançado, já que ele não havia freqüentado seminário antes de fundar Mars Hill. Uma vez superado o sarcasmo de Driscoll, Breshears observou um profundo compromisso com as Escrituras e uma teologia fundamentada na Bíblia.
“Desde então, descobri que Mark é um gênio nato”, Breshears diz. “Ele tem um intelecto de primeira linha. Muito do seu sucesso vem da sua inteligência impressionante e da habilidade empreendedora que só aparece em um em um milhão.”

Trabalhando juntos desde 1999, Breshears observa que Driscoll agora gasta menos tempo criticando os outros e mais tempo falando positivamente acerca da missão da igreja para amar Seattle. Mesmo assim, Driscoll não se tornou menos controvertido do que antes. Ele me disse ter aprendido muito com Ed Stetzer, um missiólogo que trabalha para o Southern Baptist Convention Nort American Mission Board. Stetzer dirige o Center for Missional Research, que estuda cultura e avalia a eficiência da igreja. Entretanto, como Stetzer era membro do conselho do Acts 29, a NAMB não mais o aceitou para esse tipo de trabalho. O porta-voz, Mike Ebert, me disse que a denominação tem “diferenças controversas” com alguns dos pontos de vista e das práticas de Driscoll.

De fato, de acordo com Breshears, “ele ofende todo mundo”. “A maneira de Driscoll fazer as coisas é... se Jesus diz isso, eu vou jogar isso na sua cara. Pode se acostumar com isso”, diz Breshears. "Mas isso é parte do que leva as pessoas a reagir. Aqui está um sujeito que se levanta, abre sua Bíblia, e diz: 'Cara, isso é assim e assim". Quando ele diz, 'cara', uma boa parte do grupo já fecha o tempo. E quando ele diz, 'isso é assim e assim', a outra parte do grupo fecha o tempo", explica.

Bela exortação - Todo debate que Driscoll levanta sobre sua extremada maneira de pregar ou seu estilo de evangelismo é nada comparado às reações advindas de quando ele fala sobre mulheres.

“Se eu pudesse mudar uma parte da Bíblia”, Driscoll disse ao Seattle Times, abordando os escritos de Paulo acerca das questões de gênero, “seria essa parte, só assim me deixariam em paz”.

Mars Hill ensina que somente homens podem servir como anciãos da igreja e que o pai é quem deve liderar a casa. Mas Driscoll freqüentemente volta os olhares para “homens que traem suas esposas, batem em seus filhos, vêem pornografia e se divorciam”. Ele cresceu atrás de um clube de strip-tease numa vizinhança barra-pesada. E continua brigando até hoje.

“Vejo que o mundo está cheio de homens maus, e a única maneira de proteger as mulheres é sendo mais durão do que eles”, explica. “Não estou falando de ser um bandido, agressivo ou estúpido. Mas o que estou dizendo é que quando um bandido, alguém agressivo ou um estúpido aparece no playground e começa a provocar as crianças, alguém precisa mostrar para eles, alguém precisa dar uma dura neles.”

Driscoll teria sido sábio no último outono se tivesse seguido seu próprio conselho e posicionamento acerca das questões de ser homem quando ele comentou a saída de Ted Haggard, do National Association of Evangelicals. Escrevendo em seu blog, Driscoll oferecia ajuda, conselhos práticos para jovens pastores que estivessem em crise na área da tentação sexual. Mas um comentário chamou a atenção.

“Não é incomum encontrar esposas de pastores que deixam as coisas correr soltas; elas algumas vezes pensam que por que seu marido é pastor ele é destinado à fidelidade, o que gera nelas uma propensão à acomodação”, escreve Driscoll. “Uma esposa que deixa as coisas como estão e não se mostra sexualmente disponível ao seu marido, na maneira em que Cantares de Salomão apresenta tão claramente, não é responsável pelo pecado do seu marido, mas também ela não o está ajudando muito”.

Muito embora não tenham sido dirigidos à esposa de Haggard, os comentários compreensivelmente motivaram a exortação. Um grupo de Seattle chamado People Against Fundamentalism se levantou com intenção de fazer uma manifestação pública na Mars Hill Church. Entretanto, Driscoll se antecipou ao protesto desculpando-se em seu blog e sentando-se para conversar demoradamente com os organizadores do protesto.

Ele admitiu não ter articulado cuidadosamente seu posicionamento: os cristãos não devem ter um falso senso de segurança acerca da fidelidade de suas esposas. Ele também admitiu que julgou mal o momento em que fez o comentário.

O comentário sobre os Haggard não surpreendeu aos críticos de Driscoll, que afirmam que seus esforços para proteger as mulheres na verdade as desvaloriza. Jennifer McKinney, do Programa de Estudo da Mulher no Seattle Pacific University, diz que ela começou a ensinar sobre Sociologia do Gênero em parte por causa de algumas questões levantadas na vizinhança de Mars Hill. Ela notou que muitas mulheres estudantes que freqüentam Mars Hill abandonam suas ambições de carreira, tais como assistentes sociais ou pastoras de jovens. Em vez disso, elas se preparam para se tornar esposas e mães.

“Não posso afirmar que as pessoas que vão a essa igreja não sejam seres ativos e pensantes”, McKinney diz. “Mas a percepção no campus é a de que essas mulheres mudaram completamente.”

Driscoll e Mars Hill deram de ombros para essa crítica. Primeiro, porque mulher solteira compõe o maior grupo demográfico em Mars Hill. Depois, quem não esperaria que um pastor ficasse feliz por que as pessoas em sua igreja realmente mudam? Isso é especialmente verdade em Mars Hill, onde 40% do seu crescimento ocorre por meio de conversões. E essa controvérsia parece não ter afetado a igreja – ao menos não a longo prazo. Antes do último Natal, mais de um mês depois dos comentários de Driscoll sobre Haggard, a igreja teve uma queda de 400 mil dólares no seu orçamento. Pela primeira vez a equipe ministerial foi atingida por esse problema. Mas, assim que os membros entenderam a necessidade, as ofertas explodiram. Só em Janeiro, a procura pela igreja teve um aumento de mil pessoas.

A exposição às críticas não tornou os líderes da igreja imunes a elas. Wendy Alsup, a diaconisa responsável pelo treinamento e teologia das mulheres, mostrou-se emocionada quando nos sentamos na “sala de guerra” e conversamos sobre Driscoll. Ela disse que Mars Hill “sempre estará aberta às críticas, porque Deus nos deu um crescimento maior do que poderíamos administrar”. Alsup defende Driscoll com clara paixão. “Ele pede perdão mais do que qualquer pastor que conheço”, ela disse. “Ele confessa pecado publicamente. é um grande exemplo para os pastores jovens, idealistas, confiantes, inexperientes e imaturos aos quais você tem que dizer que você está errado quando você estiver errado”.

Jonathan MacIntosh foi um desses pastores jovens, confiantes e imaturos. Como um plantador de igrejas em 2004, ele apareceu em um acampamento do Acts 29 procurando por conselhos e investimento. Sua igreja teve problemas em crescer além dos 40 membros, apesar da forte liderança leiga. Driscoll perguntou a ele o porquê. MacIntosh culpou o secularismo da sua cidade no Mississippi. Driscoll não engoliu essa.

“Então ele olhou para minha esposa e disse: ‘Ashley, minha querida, diga-me o que está errado em sua opinião. Quero que você seja honesta comigo. Olhe nos meus olhos e diga-me a verdade’”, relembrava MacIntosh. “A princípio ela deu respostas triviais. Mas logo desabou: ‘Meu marido fica fora cuidando desse negócio de plantação de igreja. Eu fico amarrada a esse emprego que odeio, trabalhando feito uma condenada para nos sustentar. Tem gente entrando e saindo de nossa casa a toda hora da noite. Estou perdendo meu marido para esse negócio. Sinto-me miserável. Isso está acabando com a minha alegria de viver, meu amor por Deus e meu respeito pelo meu marido’”.

A essa altura, MacIntosh estava certo de que a Acts 29 não iria subsidiar sua igreja. Então Driscoll disse-lhe: “Você tem uma boa aparência, é eloqüente, animado, prega a Bíblia, ama a Jesus (diz timidamente)”. MacIntosh relembra Driscoll falando para ele: “Você pensa que pode liderar e amar a noiva de Deus quando você não pode liderar e amar a sua própria noiva? O problema com sua igreja é você e o seu casamento. Todo mundo sabe disse. Você é a xerox do seu casamento. Aí está a sua igreja, e esse é o motivo pelo qual as coisas deram errado. Como você se atreve?”

“Cara, aquilo foi lindo”, MacIntosh diz. Driscoll disse para MacIntosh levar sua esposa a um bom restaurante, achar um bom hotel e mandar a conta para ele. Hoje MacIntosh trabalha para a Acts 29 e avalia os plantadores de igreja. Quando nos encontramos na casa de Driscoll, MacIntosh puxou sua carteira e me mostrou uma foto da sua filhinha.

“Deus usou aquele dia e aquele encontro para salvar meu casamento”, disse. “Foi uma sacudida que recebi de Jesus.”

Atirando pedras - Mesmo entre aqueles que compartilham os seus pontos de vista sobre o papel do homem e da mulher e sua preocupação acerca da igreja emergente, Driscoll é bem menos controvertido. John Piper diz que nenhum outro preletor da Conferência Desiring God causou tanta confusão. Alguns calvinistas não confiam totalmente em Driscoll porque levou tempo para sua teologia reformada ser consolidada. Pregando sobre o livro de êxodo, no início de sua carreira ministerial, Driscoll ficou impressionado com a soberania de Deus sobre faraó. Ele viu como Deus agiu para libertar seu povo. O livro de Romanos eliminou qualquer dúvida que restava acerca da teologia reformada, o que ele resume desta forma: “O povo estraga tudo, e Deus nos salva de nós mesmos”.

O venerável expositor reformado John MacArthur tem elogiado a soteriologia de Driscoll. Ele se alegra em ver Driscoll enfatizando a expiação substitutiva e justificação somente pela fé. Mas isso não muda a sua “obsessão com os aspectos vulgares da sociedade contemporânea”, escreveu MacArthur no último dezembro na revista Pulpit.

“O estilo de vida que ele inspira – especialmente sua familiaridade com os muitos modismos – praticamente garante que [seus discípulos] vão fazer pouco progresso na direção de uma santificação autêntica.”

As evidências parecem desmentir a crítica de John MacArthur. Alsup compara Mars Hill com uma sala de triagem da Emergência com muitos novos crentes lutando para superar terríveis problemas. Antes do culto do qual participei, conversei com Lynette Palmer, que se tornou cristã há alguns anos na Universidade de Washington. Sua família passou por muitos abusos físicos e emocionais. Nos últimos anos, a mãe e três irmãs de Lynette abraçaram a fé e começaram a freqüentar Mars Hill. Mas o pai dela ficou preso por anos pelo estupro de uma de suas irmãs. Os sermões de Driscoll ajudaram a trazer cura para Palmer.

“Uma vez que comecei a olhar o que Deus diz acerca da sua soberania”, Palmer disse, “entendi que Satanás não tem poder para destruir as pessoas”.
Driscoll relata muitas histórias do poder transformador de Deus em seu livro Confessions. Mesmo recebendo críticas de MacArthur, ele diz que é “como levar um trote da galera. Não é uma boa sensação, mas ao mesmo tempo significa que você está dentro”. Quando ainda era cristão iniciante, Driscoll pegou centenas de fitas para aprender com as pregações de MacArthur. Ele lamenta que MacArthur escolha um fórum público para suas críticas, quando ele teria satisfação de voar até Los Angeles para ouvir os seus conselhos.
Sem implicar diretamente MacArthur, Driscoll faz uma distinção entre missionários que estudam cultura e fundamentalistas que tentam evitar a cultura.

“O fundamentalismo está, de fato, perdendo a guerra, e acho que isso é, em parte, responsável pelo surgimento do que conhecemos como um maior liberalismo da igreja emergente”, Driscoll diz. “Isso porque muito do que alimenta esse liberalismo da igreja emergente é o cansaço gerado pelo fundamentalismo extremo que atira pedras na cultura. Mas cultura é a casa onde as pessoas vivem, e me parece realmente maldoso atirar pedras na casa das pessoas”. Somente alguns amigos de Driscoll vêm em sua defesa, porque ninguém mais se arriscaria por ele. Driscoll não se incomoda com isso, desde que seu grupo de missionários aculturados continue firme em seu trabalho. Centenas de jovens ministros plantando igrejas ao redor do mundo; eles o entendem. Eles o dão espaço enquanto ele busca o equilíbrio entre ser sensível e ser provocativo.

“Você não pode negar suas raízes”, diz Darrin Patrick, vice-presidente da Acts 29. “Mark é um brigão de rua.” Até mesmo o Bom Pastor teve que lutar contra lobos.

Collin Hansen é editor associado da Christianity Today. Seu livro sobre o ressurgimento da teologia reformada entre jovens evangélicos será publicado pela Crossway em 2008.

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