Um texto do pastor presbiteriano Derval Dasilo bem oportuno neste momento em que, desde sábado, lembramos A Reforma Protestante iniciada/feita(?) por Lutero. Para enriquecimento de seu vocabulário e melhor compreensão do texto algumas palavras têm links para seus respectivos significados no site do iDicionário Aulete.
Por tantas divergências e tendências, algumas das doutrinas básicas da Reforma Protestante se diluíram, quando não se fragmentaram irreparavelmente. Como um vaso quebrado em mil cacos, divergências aprofundaram-se na luta pela supremacia doutrinal. Teses da Reforma (“sola gratia”, “sola fide”, “sola scriptura”) não passam de lembranças hoje. Vende-se a graça despudoradamente; crença religiosa é fé. A hermenêutica fundamentalista diz que a escritura formal (Bíblia impressa) é mais importante que Jesus. Protestantes “não protestam mais”; corrompe-se o princípio.
O corporativismo evangélico funciona como mordaça, nem de longe lembra a unidade na Reforma (século 16). Mas, se todo mundo é evangélico, ninguém é “evangélico” (Longuini Neto). Enquanto isso, evangélicos requentam heresias: pelagianismo (salvação com obras, santidade com propósito, bajulação de Deus para alcançar “graça”); gnosticismo (devemos pensar que o “mundo real” é totalmente transcendente este mundo); e o docetismo (o corpo está perdido, a aparência do mal é pior do que o próprio mal).
Nenhum reformador fundou sua denominação. Na igreja do Ocidente, “catholikos” é total, abrangente, universal. Grupos confessionais se acreditavam reformando a Igreja Romana e não a Ortodoxa, jamais separados da mesma. Essa era a igreja que lhes restara do cisma de 1054. O princípio “igreja reformada sempre se reformando” vigia desde séculos. Não foi inventado por Lutero ou Calvino. Reformava-se a Igreja dentro da igreja institucional. Nenhum deles falou da criação de outras igrejas (contradizendo o equívoco, os reformadores não se afastam da igreja apostólica, igreja dos pais, igreja de Deus). Pouco mais de um século depois, a Reforma era traída pelo denominacionalismo e se declarou “separada” da igreja histórica. Sem pudor algum, “reformava-se” a Reforma, dividindo a igreja mais uma vez. Rejeitando os pais apostólicos, rejeita-se também os termos do primeiro Credo cristão (200 d.C.)?
Algumas das ideias mestras da Reforma não são mais observadas, como o “sacerdócio geral de todos os crentes”. Negado como tal, apresenta a rejeição da unidade de todos os discípulos, reclamada por Jesus (Jo 17): “Pai, oro para que sejam um, assim como eu e tu somos um”. É possível reunir evangélicos conservadores, progressistas, culturalistas, pentecostalistas e ecumênicos sob o mesmo teto? Lutero, Melanchton, Zwinglio, Calvino, Bucer, John Knox, Bullinger e outros dirigiam a Reforma na Europa Continental e na Bretanha no sentido de uma popularização da fé original da igreja apostólica. Eram unânimes: a “ecumene” é intocável.
Resta dizer que a comunidade protestante se compreendia dentro da Igreja (“catholikos”), universal, no protestantismo emergente e desassociava-se do catolicismo no século seguinte. Mas a democracia do “laós” (povo) de Deus, ao que parece, ainda está por vir. Se existe, em muitas comunidades reformadas, está em retrocesso. O povo só diz amém. Quando o Novo Testamento (1Pe 2.9-10; Ap 5.9-10; 20.6) refere-se à substituição da elite sacerdotal, para a diaconia integral (eclesiástica e social) e a intercessão, autoriza-se todo cristão e toda cristã a colocarem-se como sacerdotes e sacerdotisas do reino de Deus dentro da igreja em favor do mundo. Prerrogativas daqueles que representam ministerialmente a vontade de Deus na terra. Homens e mulheres cristãos são o povo sacerdotal do reinado de Deus. Com a Bíblia, Lutero afirma que todo o povo da igreja é sacerdotal. Calvino diz o que é interpretado teologicamente (Ef 4.9-16): toda a Igreja é ministerial. E Karl Barth: mas “…a igreja é humana e pecadora”. Como ficamos, no atual “protestantismo”?
Fonte: blog do Derval Dasilo (achado na Editora Ultimato); foto de António Mendonça em br.olhares.com
Veja também:
■ E hoje é dia da reforma protestante [post do sábado 31/out]
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