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Obras sociais de igrejas evangélicas presentes no Brasil [4]

E aqui tá a quarta e última reportagem da série. Nesta eles falaram da atuação dos luteranos no Rio Grande do Sul.
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Na reportagem que encerra a série, Flávio Fachel e William Torgano mostram a atuação dos luteranos no Rio Grande do Sul com descendentes de europeus, de negros, escravos e de índios guaranis.

Uma bênção que ecoa há 15 décadas numa região de pequenas propriedades em São Lourenço do Sul, a 200 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
 
Eles são descendentes dos pomeranos, povo agricultor que vivia da própria terra na Europa, na região onde agora é a Alemanha.

Hoje, a lavoura no Brasil multiplica sorrisos. Mas nem sempre foi assim. A mesma terra que hoje vê prosperidade já foi testemunha de um modo de produção que empurrou os descendentes dos imigrantes para uma situação de dependência.

Durante quatro gerações, eles plantaram para patrões, venderam para atravessadores, perderam a relação de liberdade que tinham com a terra.
 
Hoje, 150 anos depois, a fé que os acompanhou nos barcos das grandes travessias do Atlântico, e que nunca foi esquecida, conseguiu começar a mudar essa história.

Uma chegada cheia de esperança nas promessas de terra farta e de felicidade. Nas malas, carregavam o pouco que tinham. Nos corações, traziam uma fé incomum no Evangelho e na Igreja Luterana.

“As primeiras igrejas que chegaram ao Brasil são igrejas que vieram a partir de grupos étnicos que foram trazidos para ocupar o lugar dos escravos. Esses grupos trazem suas crenças, criam as suas comunidades e as igrejas começam a se desenvolver”, explicou Maria das Dores Machado, socióloga da UFRJ.

A Igreja Luterana surgiu no século XVI, na Europa. Chegou ao Brasil com os pomeranos em 1824. Hoje já são 1 milhão de fiéis em todo o país.

Sua principal característica é acreditar que a salvação vem apenas pela fé e não como resultado de obras e boas ações. Mas isso não impede a forte ação social da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Rio Grande do Sul.

“A missão desse serviço foi exatamente de resgatar essa fé e uma fé tem que se articular com a vida das pessoas que se concretiza no jeito de se relacionar com a natureza”, disse Ellemar Wojahn, coordenador da IECLB.

Com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, a igreja, de certa forma, devolveu aos fiéis a capacidade que os antepassados perderam: de sobreviver da terra sem depender de ninguém.

“Foi Deus que fez a natureza, foi Deus que fez em seis dias, no sétimo descansou e a deixou para nós para trabalhar e ganhar o nosso sustento”m afirmou o agricultor Romil Mühlenberg.

Seu Romil vive na terra que já foi de seu pai, do avô e do bisavô. Nunca abandonou a leitura da Bíblia. Na lavoura, o resultado do que está aprendendo com os irmãos luteranos: uma nova forma de produzir, sem agrotóxico. “Se não fosse a igreja, a gente não estava nessa da agroecologia”.
E a produção é vendida direto para o consumidor, na Feira dos Luteranos, no Centro de Pelotas.
Vantagem? O lucro de cada um não é dividido com mais ninguém. Mas o ganho maior para todos eles vem na esperança de ver a família continuar unida na fé e na terra dos antepassados.

“Agora eu sinto orgulho muito grande de estar na lavoura com meus filhos acompanhando. Eu acredito que daqui a 50 anos os meus netos estarão trabalhando aí”, projeta Seu Romil.

“A igreja tem essa pretensão de criar condições para que as famílias tenham possibilidade de ter renda e uma vida digna no meio rural”.

E ainda sobra para ajudar a quem precisa. Depois do culto, moradores pobres da região recebem cestas de alimentos doados pelos agricultores luteranos. “É uma sensação de que Deus está sempre com a gente apoiando, ajudando”, disse a desempregada Santa Janete Maia.

Estar com quem precisa. Os fiéis da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Rio Grande do Sul decidiram também estender a mão para mais gente que depende da terra no estado.

Descendentes de escravos, esquecidos nos quilombos, e os índios guaranis que, depois de perderem as terras, viraram mendigos de beira de estrada. Entre duas comunidades tão diferentes, muitas semelhanças.

“O Brasil tem uma dívida social e a igreja também tem uma dívida social com essas populações tradicionais que foram excluídas e marginalizadas que não têm lugar ainda hoje na sociedade”.

Preocupados com o mais básico – sobreviver – índios e quilombolas foram deixando os costumes para trás. Agora, os luteranos ajudam essas pessoas a se reencontrar com a própria cultura.

Estimulando os mais velhos a ensinar o que sabem aos mais novos. Assentados na reserva, os índios tiveram sorte. Podem agora ensinar às crianças guaranis que seu povo vive da terra. E que apesar do que sofreram com os brancos, continuam de braços abertos a quem quiser vir ajudar.
 
"Somos da tribo Tekoaporã e convidamos você a nos visitar", cantam os pequenos guaranis.

Uma lição de amor e solidariedade. “Jesus não perguntou se era difícil, onde estava, como é que era, que cor que tinha. Foi buscar e a gente tem que seguir esse exemplo, estar permanentemente nessa busca da ovelha perdida”, declarou Rita Sorita, coordenadora da Igreja.

Na reportagem de quinta, nós mostramos o trabalho dos batistas com crianças que foram afastadas dos pais pela Justiça e também apresentamos o trecho de uma entrevista com a socióloga Maria das Dores Machado.

Ela observou que a doutrina pentecostal enfatiza a capacidade do indivíduo de desenvolver o dom do Espírito Santo. Só que nós mostramos esse trecho logo depois de explicar as origens da Igreja Batista e aí ficou parecendo que a Igreja Batista seria pentecostal.

Mas isso não é verdade. A socióloga se referia a outras igrejas. Os batistas têm origem na Inglaterra, no século XVII, valorizam o batismo na idade adulta e adotam princípios comuns ao protestantismo.

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