Todos têm acompanhado pela mídia a situação difícil do povo catarinense.
Em casa, nos mobilizamos e tiramos do armário as roupas menos usadas, os brinquedos já não tão populares e fomos à sede da Defesa Civil para entregarmos o que recolhemos. Ao nos aproximarmos do prédio, notamos uma fila enorme de carros e caminhões e fomos informados de que uma igreja evangélica na mesma rua havia cedido as dependências de seu templo para arrecadar donativos, uma vez que o espaço de que a Defesa Civil dispõe estava tomado, tal a resposta da população, sensibilizada pela tragédia causada pelas chuvas no sul.
Na igreja, fomos recepcionados por um senhor de sorriso largo que, ao ver um saco em minhas mãos, saudou-me com a ‘paz do Senhor’, orientando-me a depositá-lo ali mesmo na portaria. Quando viu que eu carregava outros, chamou-me de ‘abençoado’, à medida que lançava meus pacotes por sobre uma montanha às suas costas. Por fim, convidou a mim e a minha esposa que olhássemos dentro do templo o que havia sido arrecadado até ali.
Nos emocionamos diante de uma quantidade imensa de caixas de todos os tipos, amontoadas aos milhares no salão enorme onde a igreja se reúne. À saída, ele nos indagou: ‘viram a presença de Deus no templo?’.
A caminho de casa, a frase ressoava em meus ouvidos... ‘viram Deus...?’.
Deus a gente não vê. Só enxerga no outro. Sua imagem se materializa em corpos famintos, em olhos fundos, sedentos. E em caixas, muitas caixas.
Tenho lutado comigo mesmo para não ‘empacotar’ Deus em meus próprios conceitos, teologias e devaneios. Ele não se presta a esse tipo de padronização.
Porém, foi bom enxergá-lo dentro de um templo, não no que o pastor, o padre, o pai-de-santo ou o monge diriam a seu respeito, mas embalado em caixas, sacos e pacotes de solidariedade nos quais o amor, que é a sua essência, não tinha rótulos religiosos, mas manifestara-se em gestos concretos de cuidado, interesse e zelo pela vida.
Fonte: Jorge Camargo via Penso. Logo creio.
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