Pular para o conteúdo principal

William P. Young fala de seu primeiro romance, A cabana

Autor do maior fenômeno editorial do momento já vendeu mais de 5,4 milhões de exemplares nos eua e canadá

Fenômenos editoriais de autores desconhecidos costumam vir acompanhados de histórias de bastidor curiosas. Mas o de William P. Young, autor de A cabana – 100 mil exemplares vendidos no Brasil desde seu lançamento, em agosto, e 5,4 milhões na América do Norte, em pouco mais de um ano – beira o fantástico. Típico norte-americano comum (nasceu no Canadá e vive nos EUA), é um homem casado, pai de seis filhos. De vez em quando, para dar de presente à prole, escrevia letras de canções e contos. Um dia, sua mulher pediu-lhe para escrever algo de maior fôlego, que mostrasse aos filhos sua visão de mundo.

Começou, em 2005, a saga de A cabana. Com três empregos, Young, morador de subúrbio, pegava diariamente um trem para o trabalho. Eram 40 minutos na ida e mais 40 na volta. Ali, começou a resenhar algumas conversas. O processo seguiu de maneira bastante precária, até mesmo em sacolas de compras.

Com medo de que aquelas conversas desaparecessem, colocou-as no computador. Dali surgiria a narrativa do livro, que tem muito a ver com a própria história de vida de William P. Young. Finda a obra, mandou editar 15 cópias, que deu para os filhos, parentes e amigos no Natal de 2005. A história terminaria ali, não fosse o impacto causado pelo livro às pessoas próximas a ele.

A cabana – que até o fim desse ano terá sido traduzido para 35 idiomas – conta a história de Mackenzie A. Phillips, homem que, a exemplo de Young, tem uma grande família. Com passado complicado (filho de alcoólatra, abandona a família na adolescência depois de levar uma surra homérica do pai, vingando-se dele da pior maneira possível), conseguiu se estabilizar graças ao casamento.
.
Um dia, vai com os filhos mais novos acampar. Lá, a mais nova, Missy, desaparece de forma trágica. Muitos acreditam se tratar de um crime praticado por um serial killer que mata meninas com menos de 10 anos. A vida de Mack pára e ele briga com o mundo (aí incluindo Deus, que sempre teve presença muito forte em sua família). Até que quatro anos mais tarde ele recebe um bilhete pedindo que vá até a cabana onde Missy havia desaparecido. Ao chegar lá, sofre uma reviravolta, pois se depara com Deus, Jesus e o Espírito Santo.

Tal como a vida de seu protagonista, A cabana se tornou um livro transformador para muitos que o leram, como ditam depoimentos em inúmeros sites. Ao lidar com religião, o livro também foi alvo de controvérsias. Há quem o acuse de distorcer a figura de Deus e banalizar as escrituras. Seja como for, as polêmicas têm servido para levantar ainda mais a bola do livro. Tanto que William P. Young prepara uma obra autobiográfica na qual vai contar sua trajetória que culmina em A cabana (que, afirma, está sendo negociado com um grande estúdio de Hollywood). Esta semana no Brasil (a primeira tradução oficial foi para o português) para divulgar o livro, ele conversou com o Estado de Minas. Confira a seguir trechos da entrevista.

O que chama a atenção em A cabana é como um livro, de um autor desconhecido e de uma editora idem, se transformou rapidamente num fenômeno editorial. Como foi o caminho até a publicação?
.
Mandei A cabana para 26 editoras. Todas recusaram. Então, dois amigos (Wayne Jacobsen e Brad Cummings) resolveram lançar o livro. Criaram a (editora) Windblown Media para publicar meu livro. Um tinha algumas economias; o outro, Visa e Mastercard. Colocamos dinheiro e fizemos, numa gráfica de Los Angeles, 11 mil cópias. Em maio de 2007 os livros chegaram à garagem de Brad. Então o colocamos num website e conseguimos vender mais de um milhão de cópias de dentro de uma garagem e não gastando mais do que US$ 300 em marketing. Vi que a história iria virar quando recebemos um telefonema da Austrália. Um homem perguntou: “Aí é o lugar onde posso conseguir cópias d’A cabana?” Brad respondeu: “É aqui mesmo”. Eram três da manhã. Aí o homem respondeu que havia lido o livro, desatou a chorar e desligou. Ligou novamente meia hora depois, disse que havia conseguido se controlar, mas desatou a chorar de novo. E foi assim durante as 12 horas seguintes, por meio de seis telefonemas. O homem era na verdade um senhor com seus 80 e tantos anos que tinha sofrido um impacto tão grande com o livro que queria cópias para enviá-lo para várias pessoas. Criamos um e-mail para ele e também uma maneira de o senhor nos enviar o dinheiro da Austrália. Mandamos pouco mais de 100 livros. A questão é a seguinte: esperávamos vender as 11 mil primeiras cópias em dois anos. Mas a primeira edição foi vendida em quatro meses; a segunda, de 22 mil, em 60 dias; e a terceira, de 33 mil, em um mês. Tudo sem propaganda.

O livro é ficção, mas parece trazer muito de sua própria vida, não?
.
A cabana é ficção mas é verdadeiro. É verdadeiro, mas não é real. Há muitas coisas da minha vida e da minha família. Já acampei algumas vezes naquele camping, passeei pelas estradas do livro. A respeito da dor (que ele chama de Grande Tristeza), aquilo foi tirado da minha própria história de vida.
.
Ao lidar com temas como violência, religião, o livro levantou alguma polêmica. Como você lida com isso?
.
Sabia desde o começo, por meio da experiência com a minha própria família, que A cabana causaria muito impacto, que ali havia algo especial. E acho que controvérsia é uma coisa positiva. Essas discussões têm que existir. Acho que a maneira como uma pessoa reage depois de ler A cabana revela bastante sobre como aquela pessoa é. A verdade é que quem tem mais raiva dele, que escreve na internet contra, não leu o livro. Mas isso é de cada um. O que importa é que de uma hora para outra Deus foi parar no meio das conversas.
.
E quanto ao fato de o livro ter o poder de mudar as pessoas?

É verdade, sei disso por causa dos meus parentes. Parte disto ocorre porque muitos de nós temos uma relação com a religião que nunca esteve próxima de algo verdadeiro. O relacionamento com Deus, até então, era somente performance e culpa. O livro, de alguma forma, serviu como um convite para um relacionamento de verdade com Deus. Isto, com certeza, teve um impacto sobre essas pessoas. E para mim, o que ocorreu comigo foi uma bênção de Deus. Não sou um escritor incrível; considero-me um escritor por acidente.

Diante deste poder transformador, A cabana pode ser considerado um livro de auto-ajuda, não?

Não. Curioso, porque foi somente no Brasil que tentaram colocar meu livro no gênero auto-ajuda. Os livros de auto-ajuda são sobre você mudando sua própria vida. Tudo gira em torno de você, que passos tem que tomar para conseguir isso ou aquilo. Isto é auto-ajuda. Já A cabana é um livro sobre seres humanos que não têm ajuda, que se encontram imóveis por alguma razão. Aí, ao encontrar Deus, são ajudados. Então, podemos chamá-lo de um livro de ajuda divina, não de auto-ajuda.

Como você é o autor, seria então como um deus?
.
Não me sinto como tal. O que fiz foi escrever um livro para dar de presente aos meus filhos. É como se Deus tivesse falado comigo: “Você o criou para as suas crianças e eu o darei para as minhas”.


Mariana Peixoto - EM Cultura

Fonte: www.new.divirta-se.uai.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

William Barclay, o falso mestre

  O texto a seguir foi traduzido por mim, JT. Encontrado em inglês neste endereço . As citações de trechos bíblicos foram tiradas da bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA).     William Barclay, o falso mestre Richard Hollerman Estamos convencidos de que muitas pessoas não percebem o quão difundido o falso ensinamento está em nossos dias. Elas simplesmente vão à igreja ou aceitam ser membros da igreja e falham em ter discernimento espiritual com respeito ao que é ensinado pelo pastor, pregador ou outro "sacerdote". Elas meramente assumem que tudo está bem; caso contrário, o quartel-general denominacional certamente não empregaria uma pessoa em particular para representar sua doutrina publicamente. Esta é uma atitude desgraçadamente perigosa a sustentar, uma que nos conduzirá de forma desencaminhada e para dentro do erro. Alguns destes erros podem ser excessivamente arriscados e conduzirão ambos mestre e ouvinte à condenação eterna! Jesus nos advertiu sobre os farise

O escafandro e a borboleta

Uma dica de filme bacana, um motivacional apesar de não ser um filme cristão.     por Juliana Dacoregio   Impossível assistir a O escafandro e a borboleta (França/EUA, 2007) e não pensar em valorizar mais a própria vida. É o pensamento mais simplista possível, mas é também o mais sábio. Eu estava com um certo receio de assistir ao filme. Sabia do que se tratava e não queria sentir o peso da tragédia daquele homem. É uma história realmente pesada. E por mais que Jean Dominique Bauby – que, baseado em sua própria história, escreveu o livro homônimo que deu origem ao filme – conseguisse rir apesar de sua situação, o riso dele faz só faz aumentar o nosso desconforto, por ficar evidente que seu rosto permanece estático enquanto há emoções em seu interior.   Bauby se viu preso em seu próprio corpo em 1995, quando sofreu um derrame que o deixou totalmente paralisado e incapaz de falar. Apesar disso ele não teve sua audição e visão afetadas e suas faculdades mentais continuar

O natal por Ed René kivitz

O Natal não é um só: um é o Natal do egoísmo e da tirania, outro é o Natal da abnegação e da diaconia; um é o Natal do ódio e do ressentimento, outro é o Natal do perdão e da reconciliação; um é o Natal da inveja e da competição, outro é o Natal da partilha e da comunhão; um é o Natal da mansão, outro é o Natal do casebre; um é o Natal do prazer e do amor, outro é o Natal do abuso e da infidelidade; um é o Natal no templo com orquestra e coral, outro é o Natal das prisões e dos hospitais; um é o Natal do shopping e do papai noel, outro é o Natal do presépio e do menino Jesus. O Natal não é um só: um é o Natal de José, outro é o Natal de Maria; um é o Natal de Herodes, outro é o Natal de Simeão; um é o Natal dos reis magos, outro é o Natal dos pastores no campo; um é o Natal do anjo mensageiro, outro é o Natal dos anjos que cantam no céu; um é o Natal do menino Jesus, outro é o Natal do pai dele. O Natal de José é o instante sublime quando toma no colo o Messias. A partir daquela primei