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Sem sentido

Pintura de Ludwig van Beethoven compondo a Missa Solemnis (Joseph Karl Stieler, 1820, em Wikimedia Commons) Ludwig van Beethoven. Um dos maiores gênios e pilares da música ocidental, enfrentou inúmeras dificuldades físicas, financeiras e sociais, criando obras fantásticas, libertadoras, profundas e eternas. Acho que não preciso gastar meu tempo falando da vida dele e nem sua grandeza no campo das artes. Enfim, uma rápida leitura em sua biografia e torna-se muito mais fácil ver a infinidade do Deus criador nela, do que em quaisquer manifestações delegadas à Ele, que tanto vemos por aí.

 

Há 200 anos atrás, esse garotão produziu uma bagatela chamada Für elise ou "Para Elisa". Ao que tudo indica, a fez para uma senhora, a quem proporia casamento, chamada Therese Malfatti (Elisa seria um pseudônimo para evitar qualquer semelhança). Essa peça é mundialmente conhecida, é bastante complexa e tem uma intensidade que, se ouvida dentro do silêncio, pode nos emocionar profundamente.

 

Não sei se Beethoven tinha noção completa de sua capacidade ou da qualidade e profundidade de suas obras. Mas fico pensando o que ele pensaria se voltasse a viver conosco nos dias de hoje e, depois de se estressar amargamente com todo o caos tecnológico que, felizmente, não existia em sua época, ligasse para sua nova operadora de telefone e, após horas e horas sendo pentelhado, escutasse sua famosa Für Elise transformada em um barulhinho irritante. Ou então, estivesse em sua nova casa e, de repente, ver o tiozão do gás a 20 km/h na rua e... lá estava sua Für Elise amolando novamente.

 

Essa obra, como muitos outros casos, foram completamente (ou bastante) banalizadas. Já não soa como deveria soar. Já não nos toca como deveria nos tocar. Apenas quem a conhece no passado a aprecia com seu devido valor.

 

Isso tudo me levou a olhar o lado que mais tem efeito em minha vida. Durante 16 séculos a maior das obras foi escrita: a bíblia. A obra perfeita. As palavras transformadoras, os ensinos atemporais de um Jesus que era indignado com as barreiras da sociedade em sua época. E então me pergunto.. o que aconteceu com o valor, com o efeito, com o sentido de palavras e expressões como misericórdia, glória, aleluia, vaso, fogo, benção (ou bença), sangue de Jesus, setas, brecha, cabeça e cauda, vitória, campanha, explosão de milagres, abrir a tal porta, cura, restituição, apostólico, revelação, unção, pisar na cabeça do diabo, vontade de Deus, varão, servo, irmão, arca, semeadura e principalmente paz do Senhor (ou graça e paz pra ninguém se sentir excluído).

 

Muitas dessas palavras até foram inventadas por nós, de uma forma conveniente e tendenciosa. E ninguém mais suporta ouví-las. Irracionalmente, todos os dias essas palavras e expressões (a lista não tem fim) são vomitadas em discursos prontos e ninguém pensa no verdadeiro sentido e valor de cada. E, comparado à estorinha de Beethoven, tantas outras que possuem uma profunda carga semântica, como a Misericórdia, que é o sentimento profundo de dor e compaixão de Jesus por causa de nossa fraqueza resultando num ato intenso de amor e perdão, e são proferidas de forma banal e vulgar, como se já não valessem de nada.

 

Beethoven que nos desculpe. Deus que nos perdoe.

 

Fonte: Túlio Benedetti em Unção outros não via Genizah; imagem de Wikimedia Commons

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