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Lombardi e o perfil do pregador

Lombardi Por Leonardo Gonçalves
 
Na semana passada Recentemente foram noticiadas duas mortes de famosos. Morreu Leila Lopes, ex-atriz de novelas que, embora se declarasse evangélica, se dedicava a fazer filmes pornográficos; e morreu Lombardi, o locutor do SBT cuja voz se tornou conhecida em todo país.

Ao analisar a trajetória do Lombardi, o que mais me chama atenção é “como alguém pôde obter tamanho sucesso sem jamais promover a própria imagem?”. Desde pequeno aprendi a reconhecer a voz do Lombardi no programa Silvio Santos, mas não me lembro de uma só vez em que ele tenha aparecido no programa: Toda sua vida foi dedicada ao patrão, Silvio Santos, e apesar das muitas propostas para sair do anonimato, o locutor se manteve fiel ao seu patrão. Jamais buscou auto-promoção, antes promovia com entusiasmo a imagem do chefe, o dono do SBT, senhor Abravanel.

Você já deve ter percebido onde quero chegar. Quantos pregadores que, ao invés de imitarem a João Batista, o qual declarou acerca de Cristo: “convém que ele cresça e eu diminua”, usam do nome de Jesus para promover a própria imagem? Na porta de um templo em Orlândia, há uma estampa enorme com o rosto do pastor Marco Feliciano, que preside a denominação. A Igreja Internacional da Graça de Deus tem, junto à placa das suas igrejas, o rosto do missionário RR Soares, e o apóstolo Valdemiro Santiago, novo ícone milagreiro e fenômeno religioso, vai no mesmo caminho.

A preocupação com a imagem é a principal atividade de milhares de novos pregadores. Há centenas de blogs e sites divulgando “conferencistas”, e a maioria usa o mesmo recurso de Photoshop: Colam a imagem de algum grande congresso no fundo (geralmente o de Camboriú) e a foto deles pregando. O objetivo da montagem é vender a própria imagem como pregador de multidões, atraindo para si os holofotes.

O pastor John Stott, em seu livro O Perfil do Pregador, usa algumas imagens para descrever este santo ministério. Ele fala do pregador como despenseiro, arauto, testemunha, pai e servo. Ao mencionar a igreja de Corinto, o escritor fala de um problema conhecido como “culto à personalidade”. O vergonhoso – segundo Stott – “é que esse culto que manchou a vida da igreja de Corinto no primeiro século ainda persiste entre os cristãos, e alguns líderes não hesitam em receber esta atenção exagerada e inadequada” [1].

Que bom seria se os pregadores do evangelho deixassem de se espelhar nos astros do mundo pop, ou nos apresentadores de programas de auditório, e imitassem a conduta deste “conhecidíssimo anônimo”, senhor Luiz Lombardi Netto, o qual jamais usou sua popularidade para promover a si mesmo, mas buscava sempre honrar o seu patrão. "Costumo dizer que fama e anonimato andam sempre juntos. Não tenho essa vaidade de aparecer. Sei que não sou nenhum galã” [2], declarou o locutor, em um bonito gesto de humildade.

Lombardi morreu nesta quarta-feira (02), aos 69 anos, mas deixou aos telepastores brasileiros uma analogia ministerial perfeita. Se nossos pregadores tivessem a mesma motivação que este paulistano do bairro do Bexiga, a vaidade seria substituída pela devoção, o desejo de aparecer seria permutado em vontade de promover o Evangelho, as competições infames para se descobrir quem é o maior jamais existiriam e muito mais almas se renderam aos pés de Cristo.
 
Notas:
[1] STOTT, John. O perfil do Pregador. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 96
[2] Veja em www.paginadosilviosantos.com
 
Fonte: Púlpito Cristão via Fé, Razão e Graça; a foto do Lombardi parece que é de domínio público já que não conseguimos localizar seu autor.
 
 
Veja também:
Não desperdice seu púlpito [vídeo do John Piper]

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