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Meus heróis morreram de OverEgo...

Mais uma excelente reflexão do Marcos Botelho do JV sobre o estado atual dos evangélicos no Brasil. Confiram.



Geração 80:
Cazuza, em uma de suas músicas, anunciou como um grito o que os jovens estavam passando na década de 80: “Meus heróis morreram de overdose, os meus inimigos estão no poder. Ideologia eu quero uma pra viver”.

Uma geração que sonhava muito com a liberdade que a ditadura abafou em seus corações. Focaram seus esforços, talentos e estudos na busca de uma ideologia que prometia uma vida mais livre!

Mas a queda da ditadura e a “liberdade” tão pregada por eles não foi um mar de rosas como se esperava  Os heróis, personalizados nos cantores e suas bandas, estavam se lixando com tudo e todos e alguns acabaram morrendo de overdose ou AIDS. Os grandes acordos políticos foram feitos e os mesmos políticos continuaram no poder transformando a liberdade democrática em mais uma bandeira publicitária focada em seus próprios interesses.

No fim da década de 80 aquele menino que ia mudar o mundo não tinha muito mais para onde ir, nem o que lutar contra, pois, teoricamente, já tinham conquistado o que procuravam. Mas a angústia ainda estava nos corações daqueles jovens, como se não tivessem encontrado o que realmente procuravam.

Geração 2010:
Sinto que nós jovens evangélicos chegamos, depois de 20 anos, na mesma situação e, parafraseando o grande poeta: Meus heróis morreram de overEgo, os meus inimigos estão na TV. Teologia eu quero uma pra viver!

Sou de uma geração que sonhou com um evangelho mais jovem e contextualizado, com evangélicos se destacando na sociedade. Focamos nossos esforços, talentos e estudos na busca de uma teologia que prometia uma vida mais livre!

Mas hoje olho para os meus heróis morrendo de OverEgo, onde tudo gira em torno deles, líderes religiosos que se acham a voz de Deus aqui na terra e estão se lixando com tudo e todos.

Vejo eventos e congressos onde estes meus heróis, preletores, chegam, dão suas palestras e saem antes mesmo de acabar a reunião. Não os conheço, nem sei como são pessoalmente, se tornaram só boas idéias. São líderes gnósticos que não se encarnaram em nosso meio, mas que possuem um conhecimento mais profundo da bíblia. O pior é ver que a cada dia estou me tornando a imagem e semelhança deles. Estou destinado a morrer de overego.

A angústia de toda vez que me declaro evangélico ser relacionado com os pregadores da TV brasileira me irrita. Percebo que os meus inimigos estão na TV. Pois sou confundido com o que mais tenho repúdio.

E a notícia que seremos 50% da população, em breve no Brasil, deixa aquele menino que ia mudar o mundo com uma sensação de não ter mais para onde ir, nem contra o que lutar, e que agora assiste tudo em cima do muro. Mas a angústia ainda está no meu coração, como se eu não tivesse encontrado o que realmente procuro .

Um grito em minha alma ainda me perturba, repetindo a frase que ouvi da música do U2 “But I still haven't found what I'm looking for”.

[Na série “Tamo junto, Cazuza” quero abordar paralelos entre as letras das músicas feitas na época da ditadura e o cotidiano da ditadura “evangélica” televisiva que vivemos hoje]





Fonte: Marcos Botelho do JV



Veja também:
Um crente sem gravata!
A retórica do discurso evangélico
Por que eu não seria um evangélico
Não Quero Mais Ser Evangélico!
O crescimento da igreja evangélica e o genuíno despertamento espiritual (5) [série de posts]
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